um weblog sobre literatura, viagens, momentos, poesia, sobretudo, sobre a vida. enfim, um weblog com histórias dentro.

terça-feira, setembro 20, 2011

hoje vi uma menina de saia rodada, camisola do ano passado, de chinelas coloridas e unhas já gastas do dia, tropeçar num buraco da rua. a mãe chamou-lhe atenção. não ao buraco. à menina. presumo que o buraco não seria tão grande quanto aquele em que todos estamos agora metidos - por isso, o dói-dói não foi muito.
quantos mais buracos irá a menina encontrar pela sua vida fora? quantos mais buracos haverão por ai escondidos? quantos mais buracos teremos nós de compor?

sábado, agosto 27, 2011

está cientificamente provado que com a perda de um dos cinco sentidos, os restantes (sentidos) intensificam-se na sua própria função.
A. perdeu a visão em idade adulta, e diz que passou a ver melhor a partir do momento em que cegou.
o mundo está tão desfocado que o melhor é tapar os olhos para separar o trigo do joio.

sexta-feira, julho 22, 2011

há um cemitério de palavras dentro do corpo de M.
em órbita louca em cada estrela desse prédio
que tropeça nas ruas da cidade.
estão mortas
e a esperança
é que haja
ressureição para elas - para as palavras enterradas dentro da praça vazia,
onde mora o coração, e que vigia cada pôr-do-sol, de cada dia.
sozinho, esperando palavras, como quem espera um pôr-do-sol.
Esperando palavras, como quem espera um filho da guerra.
Esperando palavras, como quem espera o prato na mesa. uma flor numa jarra.
assim, simplesmente, esperando na praça vazia pela alma das palavras.
as palavras são seres vivos. pois são.
porque vivem e morrem dentro de nós.

sexta-feira, abril 29, 2011

a manhã está de nevoeiro.
mas não há sebastião.
há um barco pintado no horizonte. e muito cinzento borratado no mar.
mas o mar não tem cor.
por isso,
o barco deriva.
desaparece na transparência do ar.
ou seja,
esconde-se nas paredes claras do ar.

quinta-feira, abril 21, 2011

sonhando-sempre-com o do lado.

a vida sente-se do vidro da janela para fora.
um mero espectador avalia as gotas da chuva do lado de dentro do (seu) mundo.
do lado de fora do (seu) mundo, a vida passa nos pés das pessoas, nos sacos das compras, nos pneus barulhentos, nos animais preguiçosos espalmados nas entradas das portas, ou nas saídas das mesmas portas.
uma janela separa o espectador do mundo.
o espectador fica parado, empoleirado na janela, a tentar agarrar o mundo, como um ladrão numa mota.
depois, o espectador fica abismado com a quantidade de janelas que separam mais espectadores de mais mundos.
são muitos e tantos. de vários tamanhos, pesos e cores.
o espectador aprecia o (seu) mundo, sonhando - sempre - com o do lado.

sexta-feira, março 11, 2011

anda metade do mundo a comer a outra metade. e vice-versa. claro.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

o mundo das gaivotas está em estado de alerta. vem ai uma gaivota que grita mais do que as outras. que ri mais do que as outras. que come mais do que as outras. que chora mais do que as outras. que sorri mais do que as outras. que ama mais do que as outras. que sofre mais que as outras. que teme mais do que as outras. que corre mais riscos. que é mais feliz. que é mais bonita. e mais feia. e mais louca. e mais simpática. e mais bela. e mais inteligente. e melhor. mais. e mais. mais do que as outras. uma única gaivota é mais em tudo do que todo o mundo das gaivotas.
porquê?
porque é minha. simplesmente por isso.