um weblog sobre literatura, viagens, momentos, poesia, sobretudo, sobre a vida. enfim, um weblog com histórias dentro.

sábado, janeiro 31, 2015

persianas apunhaladas

Às sete da manhã
as pérolas batem-me à porta.
Eu sorrio em concha
alargo os sonhos e abro muito os braços em jeito de abraço.

Gosto de lâminas a apunhalarem as persianas.
Sinto o corte feliz do sangue em jacto.

Às sete da manhã o sono pára
o sonho continua o desassossego calmo de quem
espera o amor em visita.

Às sete da manhã as persianas são apunhaladas
o sangue corre como sempre correu
E eu sinto o corte feliz de quem ama persianas apunhaladas.

sexta-feira, janeiro 30, 2015

Ana Luísa Amaral

invadia de amor o teu reflexo
e em estilhaços de vidro
mergulhava em ti.

Ana Luísa Amaral, poetisa portuguesa, in 'anos 90 e agora'.

Ana Luísa Amaral foi a poeta convidada nas Quintas de Leitura deste mês no Teatro do Campo Alegre. Gostaria de escrever em acta tudo o que lá foi dito, conversado, mostrado, demonstrado, cantado, tocado, documentado. Seria pouco para tantas emoções e aprendizagens. Era preciso um copo gigante para sorver toda a magia de palavras lidas e partilhadas.
É bom ouvir a imagem da poesia.

quarta-feira, janeiro 28, 2015

Palma na CdM

É extraordinário um músico entrar em palco, e uma plateia encher a sala suggia da Casa da Música de aplausos, quando ainda o músico não tocou uma canção. Isto aconteceu ontem com o Jorge Palma.
Só a figura faz o serão. O concerto também foi bom. Pareceu um poema ao relento, abrigado debaixo de um céu de estrelas e de uma lua cheia.
Tocou muitas das muitas músicas que lhe valem a carreira de músico, juntou outras que - pessoalmente - dispensava, e falhou outras quantas que trazem saudade. Bebeu água e portou-se bem, o rapaz de cabelo grisalho acompanhado do filho - o vicente - que ficará sempre na sombra do caminho do pai, e sobretudo, deu-me um brilho a este ano que dá os primeiros passos.

domingo, janeiro 25, 2015

uma sombra de Londres


Não é uma fotografia turística. É uma imagem que representa uma fase da minha vida. Londres. Uma cidade que esteve quase um ano nos 32 anos que carrego comigo. Foi cinzenta e soalheira ao mesmo tempo. No meu currículo aparece sob forma de mestrado, mas o verdadeiro significado não tem forma, tem conteúdo. Neste conteúdo cabem amigos que foram o suporte para a solidão de muitas horas e uma evolução enquanto ser humano incompreensível aos olhos de quem tem experiências diferentes.
Na ocasião relatei a experiência de Londres num outro blog que criei para a ocasião - como uma divisão da casa, de arrumos, onde arrumamos a tralha que não é de todos os dias.
Em Londres a solidão pode ser uma companhia. Muitos fins-de-semana visitava com a minha solidão os famosos Tate Museam ou o British Museam. Calcorreava as ruas, onde os pubs se exibiam com as suas Pints sem espuma e neste caminhar a cidade apresentava-se vaidosa. Quem gostar de estar rodeado de amigos, família, Londres pode ser uma cidade perigosa, ela própria escolhe quem quer que lá viva. Nós temos que conquistar a cidade para atrair uma vida sã. Londres tornou-se assim uma sombra de mim. Uma experiência de vida. Onde não ir ao Madame Tussauds é uma opção, e ir a um qualquer café rafeiro de um italiano imigrado é o mais provável. Não, não é uma fotografia turística, é uma parte de mim.

quarta-feira, janeiro 21, 2015

não te abandono, não

não te abandono, não.
como o vento não abandona o mar
que
por sua vez
não é abandonado pelas gaivotas.

não te abandono, não.

como não abandono este corpo de todos os dias.
como o coração dentro do peito.

não te abandono, não.