um weblog sobre literatura, viagens, momentos, poesia, sobretudo, sobre a vida. enfim, um weblog com histórias dentro.

terça-feira, junho 09, 2015

façam o favor de ser felizes!

é ousado falar de felicidade na televisão. os mais intelectuais dizem que é um tema fácil, desajustado da espuma dos dias. os mais sensíveis revêem-se no tema. o prós e contras de ontem foi dedicado à felicidade. o debate foi o mais ajustado à espuma dos dias, porque lhe despiu a essência. as pessoas pararam um segundo e perguntaram-se: onde está a minha felicidade? o que é a felicidade? é esta a sociedade que eu quero ajudar a construir? sim, foi serviço público. serviço público não é preencher os mesmos egos. é abordar diferentes lados da pirâmide. numa sociedade que nos conduz ao Ter, por onde anda o Ser? como ser feliz num país pobre? que desafio é saber ser feliz, saber ser consciente, desperto. e, sim, 'rir é o modo mais sério de se levar a vida'.

quinta-feira, maio 14, 2015

Berit we will hug again

A vida dá-me muitas coisas boas. Sou grata por todas as pessoas que entraram e, de algum modo, fizeram/fazem a minha vida. Nos momentos certos e incertos. Há 11 anos que a Berit, loirinha do lado direito, não nos vemos. A nossa amizade nunca teve a ver com o tempo, mas mais com o espaço e o tempo no espaço. Durante 6 meses foi minha irmã e amiga. E eu dela. sabemos disso. Pareceu um vida inteira. Uma vida antes desta. Vamos voltar a abraçar. Porque a vida é mesmo um carrossel. E porque eu sei ser na vida, e a vida sabe ser em mim. Obrigada.

terça-feira, maio 05, 2015

urgência para ontem - para depois de amanhã

Armando Jorge.
Hoje - ontem - quem visitasse as urgências do Hospital de Santo António no Porto deparar-se-ia com Armandos Jorges por todo o lado. Camas com corpos doentes, ao relento de cuidados, desprovidos de amor. No corredor camas em fila indiana, profissionais de saúde atropelam-se nas fichas médicas e a gritar 'não pode isto, não pode aquilo'. Rodopios e ziguezagues de nomes, chamadas, gentes de todas as espécies. Corrente de ar (para arejar as salas?). E um Armando Jorge.
Armando Jorge.
Armando Jorge.
Armando Jorge.
Enfermeiros frenéticos a gritarem pelo Armando Jorge, perdido, algures, sem saber que lhe estavam no rasto. Possivelmente abrigado num cobertor sem cor, virado para uma parede apática, triste de tanta urgência atrasada.
Pensei: Somos um país de terceiro mundo, e julgamos que somos super desenvolvidos.
Devo ter pensado alto, porque não faltaram vozes a desgraçar as infraestruturas da nossa saúde.
Não encontraram o Armando Jorge enquanto lá estive. Talvez amanhã - depois de amanhã.



segunda-feira, abril 27, 2015

mãe e filha. de manhã para manhã. um poema para nós. para as mulheres. e quem delas gosta.

páginas em branco,
um sonho por desembrulhar.
é assim que te vejo,
quando me olhas fundo nos olhos.

parecemos duas manhãs a olhar uma para a outra.

os olhos desviam o olhar para o resto do dia.
o dia passa.

e no nosso rosto pousado um no outro é sempre manhã.
um sol a acordar.
um relógio a rebentar.
e uma roupa por estrear.

quando me pousas os olhos.
é como camisola segura no estendal.
chuva para lá do vidro.
bóia no meio do mar.

terça-feira, abril 21, 2015

crónica de uma portista sossegada

o futebol é uma vida inteira.
o que aprendemos das bofetadas da vida, e do entusiasmo da vida aplica-se em tudo ao relvado com 22 homens mais um, e uma bola. mais uma série de regras.
ainda na semana passada o peito enchia-se de emoções azuis e brancas. o facebook enchia-se de suspiros portistas, de orgulho e de alegria contagiante.
mas hoje. hoje. há pouco, o peito mingou, o suspiro saia prolongado da boca, a cabeça aterra entre as mãos, e claro, a esperança esmorece.
a filha pergunta: 'estás triste, pai?'
as emoções sentem-se. os gritos calaram-se. ontem foi 'GOLO'. hoje foi 'silêncio'.

Mas

como escreveu o poeta, quem quer passar o bojador tem que passar além da dor. e já se sabe, tudo vale a pena se a alma não é pequena. e uma alma portista é muito grande. chego a pensar que cabe um universo dentro.
todas as lições de vida couberam nos dois jogos entre o Porto e o Bayern.
Primeiro: estar presente numa grande competição como a Liga dos Campeões é uma vitória por si só.
Segundo: o Porto ganhou a uma grande equipa. não precisa provar nada a ninguém. faz o seu caminho com a sua personalidade.
Terceiro: chegou longe, ousou, perdeu. e sim, tanto faz perder por um ou 10. porque tudo na vida vale a pena, vale a pena suar, enfim, tentar. antes tentar do que não ter desafios pelos quais lutar.

Somos Porto. Sou uma portista sossegada.

segunda-feira, abril 13, 2015

da teoria

o tempo voa, vive no carpe diem,
come de boca fechada,
vegetais e fruta,
açucar rima com avc,
sorri a um estranho,
dá valor aos teus amigos,
trabalha hoje para colheres frutos amanhã,
sê positivo,
deixa o passado onde ele está, lá trás,
dá um passo, segue em frente,
não ligues a quem não te liga,
liga a quem te liga,
sonha mais,
pede menos,
o que interessa é cá dentro,
os bens, as coisas não trazem felicidade,
ri mais,
vive mais,
aproveita todas as oportunidades.
no teu dia-a-dia lembra-te destas palavras.
não condiciones a tua vida por teorias.

quarta-feira, março 18, 2015

da abundância, Eckhart Tolle - palavras sábias

Quem nós pensamos que somos está intimamente ligado a como nos consideramos tratados pelos outros. Muitas pessoas se queixam de que não recebem um tratamento bom o bastante. “Não me tratam com respeito, atenção, reconhecimento, consideração. Tratam-me como se eu não tivesse valor”, elas dizem. Quando o tratamento é bondoso, elas suspeitam de motivos ocultos. “Os outros querem me manipular, levar vantagem sobre mim. Ninguém me ama.”

Quem elas pensam que são é isto: “Sou um ‘pequeno eu’ carente cujas necessidades não estão sendo satisfeitas.” Esse erro básico de percepção de quem elas são cria um distúrbio em todos os seus relacionamentos. Esses indivíduos acreditam que não têm nada a dar e que o mundo ou os outros estão ocultando delas aquilo de que precisam. Toda a sua realidade se baseia num sentido ilusório de quem elas são. Isso sabota situações, prejudica todos os relacionamentos.

Se o pensamento de falta – seja de dinheiro, reconhecimento ou amor – se tornou parte de quem pensamos que somos, sempre experimentaremos a falta. Em vez de reconhecermos o que já há de bom na nossa vida, tudo o que vemos é carência. Detectarmos o que existe de positivo na nossa vida é a base de toda a abundância. O fato é o seguinte: seja o que for que nós pensemos que o mundo está nos tirando é isso que estamos tirando do mundo. Agimos assim porque no fundo acreditamos que somos pequenos e que não temos nada a dar.

Se esse for o seu caso, experimente fazer o seguinte por duas semanas e veja como a sua realidade mudará: dê às pessoas qualquer coisa que você pense que elas estão lhe negando – elogios, apreço, ajuda, atenção, etc. Você não tem isso? Aja exatamente como se tivesse e tudo isso surgirá. Logo depois que você começar a dar, passará a receber. Ninguém pode ganhar o que não dá.

O fluxo de entrada determina o fluxo de saída. Seja o que for que você acredite que o mundo não está lhe concedendo você já possui. Contudo, a menos que permita que isso flua para fora de você, nem mesmo saberá que tem. Isso inclui a abundância. A lei segundo a qual o fluxo de saída determina o fluxo de entrada é expressa por Jesus nesta imagem marcante “Daí, e dar-se-vos-à. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada, sacudida e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também.”

A fonte de toda a abundância não está fora de você. Ela é parte de quem você é. Entretanto, comece por admitir e reconhecê-la exteriormente. Veja a plenitude da vida ao seu redor. O calor do sol sobre a sua pele, a exibição de flores magníficas num quiosque de plantas, o sabor de uma fruta suculenta, a sensação no corpo de toda a força da chuva que cai do céu. A plenitude da vida está presente a cada passo. Seu reconhecimento desperta a abundância interior adormecida. Então permita que ela flua para fora.

Só o fato de você sorrir para um estranho já promove uma mínima saída de energia. Você se torna um doador. Pergunte-se com freqüência: “O que eu posso dar neste caso? Como posso prestar um serviço a esta pessoa nesta situação?” Você não precisa ser dono de nada para perceber que tem abundância.

Porém, se sentir com freqüência que a possui, é quase certo que as coisas comecem a acontecer na sua vida. Ela só chega para aqueles que já a têm. Parece um tanto injusto, mas é claro que não é. É uma lei universal. Tanto a fartura quanto a escassez são estados interiores que se manifestam como nossa realidade. Jesus fala sobre isso da seguinte maneira: “Pois, ao que tem, se lhe dará; e ao que não tem, se lhe tirará até o que não tem”...

sexta-feira, fevereiro 27, 2015

parabéns avô

sentia sempre pena quando o via a assomar-se a casa
com a enxada na mão.

trazia suor no rosto,
cansaço ao peito - respiração queimada pelo sol.

eu admirava-o do portão da casa
ao vê-lo, assim, robusto,
como uma velha árvore.

mas sentia pena,
daquela
que dá um beliscão no coração.

um velho com uma enxada na mão
a trabalhar duro, debaixo do sol duro.

em pouco tempo, estariam vivos
(estamos vivos)
tomates, alface, cebola, cenoura, batata.
sopa para todos - nunca nos faltou nada.

nunca nos fizeste faltar nada.
nem à mesa, nem ao abrigo dos dias.

pousavas as galochas incriminadas de terra
lavavas as mãos,
as mãos continuavam sujas,
do dia de hoje e do dia de ontem

Bebias água, rebolavas os lábios no gole
que já foi.

Isto passou, como agora passou mais um minuto.

Hoje abafas o corpo
numa cadeira de muitos corpos.

E quando repousas o corpo, fechas os olhos
e engoles ar,
e expeles ar.
e mais uma vez.

parece uma vida inteira

a entrar e a sair,
da tua boca.

quarta-feira, fevereiro 25, 2015

até à essência -

Amar-te até ao fundo de ti.
Não quero dizer até aos teus ossos,
Não,
Nada disso.
Amar-te ao fundo de ti
Onde tu,
És invisível,
Ao mesmo tempo virginal.
Até ao fundo de onde não estás,
Fisicamente,
Digo.
Quero perfurar a última veia
Da tua alma
Vê-la nua sem pudor.
Abraçar-te destemidamente.
Alcançar-te desmesuradamente.
Perder-me no verbo amor.
Ah, desculpa, amar.
Para além de ti.
Teus gestos, anseios, medos.
Beijar-te como na primeira noite de todos os amantes.
Como no fundo de um deserto onde se encontra água.
Sofregamente.
Demoradamente.
Conquistar-te o futuro,
Além de ti.
Em que pensar agora, senão em ti? Tu que.
Que me acendes noites escuras.
Que me engravidas de palavras sem porque.
Que me assomes sem permissão.
Que me abres a porta de todas as refeições.
Que és verbo e nome ao mesmo tempo.
Tu que gritas dentro de mim,
e eu calo-me lá fora.
Amar-te até ao fundo de ti.
No fundo de mim eu sei
Que tudo o que existe para amar
É o fundo de ti.

sábado, fevereiro 21, 2015

Estejamos vivos, então!

Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"
a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!

Pablo Neruda

domingo, fevereiro 15, 2015

do jogo de palavras...

Entre o tamanho do corpo e o tamanho do passo
Olhemos
Segredos assim
Para aprender a resistência
do preto gracioso.
O meu quebrar
é uma curva branca
e muito mais pobre do que a vida das espécies.
Um risco da idade azul
Ligeiramente falando
Pode estar uma interessante realidade
Em tentar futuros.

segunda-feira, fevereiro 09, 2015

teorias a entranhar

Stephen Hawking, físico, cientista, cosmólogo. Apanhado pelo corredor da vida, aos 21 anos descobriu que fechada em si existia uma doença - esclerose lateral amiotrófica - que não lhe tirou um segundo de vida. Ainda hoje envergonha a ELA (ainda não foi descoberta a cura).
Hawking casou - duas vezes - tem três filhos e três netos. Ensinou, escreveu, publicou, é um exemplo de superação. A Fé não é dada, é conquistada. Acreditada.
O filme sobre a sua vida, A Teoria de Tudo, é um elogio à vida, à mente, à força de vontade, ao Amor. Como ainda li esta semana no livro O Mundo Novo de Eckhart Tolle, a vida vive-nos. É uma lição que custa a entranhar, mas entranha. Vai entranhando.

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

'o poema me levará no tempo'

O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu


Quando as notas desaparecerem
Do piano que não existe.
Eu encaixo-me no poema
Como um peixe no meio do oceano.
Um vazio preenchido por um tempo
Que está lá
Onde a vida sobrevive.

Tenho saudades de tudo
No meio de nada.

Penduro-me na árvore
Como um pássaro
À espera de voar.

O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
Quando tu fores tu
E nós um soneto por acabar.

sábado, janeiro 31, 2015

persianas apunhaladas

Às sete da manhã
as pérolas batem-me à porta.
Eu sorrio em concha
alargo os sonhos e abro muito os braços em jeito de abraço.

Gosto de lâminas a apunhalarem as persianas.
Sinto o corte feliz do sangue em jacto.

Às sete da manhã o sono pára
o sonho continua o desassossego calmo de quem
espera o amor em visita.

Às sete da manhã as persianas são apunhaladas
o sangue corre como sempre correu
E eu sinto o corte feliz de quem ama persianas apunhaladas.

sexta-feira, janeiro 30, 2015

Ana Luísa Amaral

invadia de amor o teu reflexo
e em estilhaços de vidro
mergulhava em ti.

Ana Luísa Amaral, poetisa portuguesa, in 'anos 90 e agora'.

Ana Luísa Amaral foi a poeta convidada nas Quintas de Leitura deste mês no Teatro do Campo Alegre. Gostaria de escrever em acta tudo o que lá foi dito, conversado, mostrado, demonstrado, cantado, tocado, documentado. Seria pouco para tantas emoções e aprendizagens. Era preciso um copo gigante para sorver toda a magia de palavras lidas e partilhadas.
É bom ouvir a imagem da poesia.

quarta-feira, janeiro 28, 2015

Palma na CdM

É extraordinário um músico entrar em palco, e uma plateia encher a sala suggia da Casa da Música de aplausos, quando ainda o músico não tocou uma canção. Isto aconteceu ontem com o Jorge Palma.
Só a figura faz o serão. O concerto também foi bom. Pareceu um poema ao relento, abrigado debaixo de um céu de estrelas e de uma lua cheia.
Tocou muitas das muitas músicas que lhe valem a carreira de músico, juntou outras que - pessoalmente - dispensava, e falhou outras quantas que trazem saudade. Bebeu água e portou-se bem, o rapaz de cabelo grisalho acompanhado do filho - o vicente - que ficará sempre na sombra do caminho do pai, e sobretudo, deu-me um brilho a este ano que dá os primeiros passos.

domingo, janeiro 25, 2015

uma sombra de Londres


Não é uma fotografia turística. É uma imagem que representa uma fase da minha vida. Londres. Uma cidade que esteve quase um ano nos 32 anos que carrego comigo. Foi cinzenta e soalheira ao mesmo tempo. No meu currículo aparece sob forma de mestrado, mas o verdadeiro significado não tem forma, tem conteúdo. Neste conteúdo cabem amigos que foram o suporte para a solidão de muitas horas e uma evolução enquanto ser humano incompreensível aos olhos de quem tem experiências diferentes.
Na ocasião relatei a experiência de Londres num outro blog que criei para a ocasião - como uma divisão da casa, de arrumos, onde arrumamos a tralha que não é de todos os dias.
Em Londres a solidão pode ser uma companhia. Muitos fins-de-semana visitava com a minha solidão os famosos Tate Museam ou o British Museam. Calcorreava as ruas, onde os pubs se exibiam com as suas Pints sem espuma e neste caminhar a cidade apresentava-se vaidosa. Quem gostar de estar rodeado de amigos, família, Londres pode ser uma cidade perigosa, ela própria escolhe quem quer que lá viva. Nós temos que conquistar a cidade para atrair uma vida sã. Londres tornou-se assim uma sombra de mim. Uma experiência de vida. Onde não ir ao Madame Tussauds é uma opção, e ir a um qualquer café rafeiro de um italiano imigrado é o mais provável. Não, não é uma fotografia turística, é uma parte de mim.

quarta-feira, janeiro 21, 2015

não te abandono, não

não te abandono, não.
como o vento não abandona o mar
que
por sua vez
não é abandonado pelas gaivotas.

não te abandono, não.

como não abandono este corpo de todos os dias.
como o coração dentro do peito.

não te abandono, não.