um weblog sobre literatura, viagens, momentos, poesia, sobretudo, sobre a vida. enfim, um weblog com histórias dentro.

quarta-feira, dezembro 31, 2008

Lisa Ekdahl chegou-me aos ouvidos através de uma amiga - estava ainda na bruma de Londres. Partilho I will be blessed, ali ao lado, para bafejar 2009 com sorte, já que a gripe anda ai...

terça-feira, dezembro 30, 2008

O desemprego sobe a galope, a acompanhar a batuta da crise.
E ouço dizer de quem trabalha, de quem ganha o pão [como se costuma dizer], de quem é profissional:

"Vai assim, e quero lá saber".

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Em tempo de festividades: boas festas!

Cá vai:

Feliz Natal e um próspero Ano de 2009!

É o que o planeta deseja.

terça-feira, dezembro 09, 2008

A. De novo.

De novo A. calcorreia a rua deserta de branco, suja de silêncio. De phones nos ouvidos. Dirige-se a outro mundo. Entra na hora de ponta. De sonhos. Completa a leitura dos passos com as pegadas de um coração esmagado. Sopra ao silêncio na tentativa fugaz de o fazer desaparecer. Tropeça e não caí [salvou o pára-arranca da hora de ponta dos sonhos]. A música toma conta dele, educa-o, conta-lhe estórias - desmaia na sua cabeça. A. enrola-se na borda do passeio, e revê a preto e branco a cor dos sonhos que se agregam no cruzamento nº 7 da hora de ponta. Pára-arranca. Stop. Sinal de cedência de passagem. De prioridade. Rotundas, muitas.
Na borda do passeio revê o poema que lhe pintou a vida. Foge da borda do passeio. O trânsito acalma. Mau sinal. A música muda de faixa, que muda de música. Já não é pára-arranca. Fluí. Escoa. No stop. Sinal de cedência de passagem. De prioridade. Rotundas, muitas. Vira na rua deserta de preto, suja de barulho. Acorda, adormece. Depende dos acordes. Repara. Olha. Vê. Nada: já circula muito rápido. Falhou um estacionamento. E outro. E outro. E tantos. A música muda de faixa, que muda de música. Esquece o poema. Tropeça e caí.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

É isto mesmo!

“Uma vez, na televisão, o Miguel Sousa Tavares perguntou-me porque é que eu não tinha inimigos. Eu respondi que um inimigo dá muito trabalho. Quando nas andanças da vida, alguém é desagradável comigo, deixo-o cair e não perco tempo com ele, muito menos a odiá-lo. Isto não é por bondade, é por gestão das minhas energias e, também, como já tenho dito, porque procuro ter uma visão estética da vida e o ódio e a agressividade são coisas muito feias”.

António Alçada Baptista in A Cor dos Dias, Memórias e Peregrinações

Escritor e editor, morreu ontem, aos 81 anos. Está, deste modo, justificada a chuva do fim-de-semana.

O futebolista vencedor da bola de ouro disse:

"O jogo contra o Brasil foi a brincar".

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Se não for pelo outro, que seja por ti!

Save Our Planet, please!
Artigo do P2 do Público de ontem (via Jornalismo e Comunicação)

"...os mais velhos têm uma ideia do jornalismo como uma missão que se cumpre de serviço público, e também como uma tribo, com laços de solidariedade muito fortes, exportam para fora da redacção as relações de amizade”. Em contrapartida, no caso dos mais novos, é muito diferente a forma como encaram o ofício: “Exercem o jornalismo como uma profissão, com horário de entrada e saída, reclama-se uma estruturação mais completa da profissão e uma regulação maior do acesso.” As amizades fazem-se também “lá fora, na busca de deixar as preocupações na redacção e de ter um espaço para outras ocupações."

Concordo. Todavia, mesmo os (jornalistas) da velha-guarda andam-se a moldar nesta vertente trazida pelos da vanguarda. Parece-me (em olhar distante) que a velha-guarda jornalística informa cheia de vícios. Com mais vaidade do que humildade. Alheada ao mais importante da profissão: o público e ao que este acarreta em termos de responsabilidade social. Alheada aos interesses do público. Quer-me parecer que a leitura deste interesse está fosco. Mas, claro, esta é a voz da vanguarda a falar. E, hoje em dia, a voz da vanguarda pouco vale, porque, como se costuma dizer, "a idade é um posto" ... a velha-guarda...

terça-feira, dezembro 02, 2008

O planeta e o prémio Dardos

Esta borboleta é louquinha [tal como a Andorinha Sinhá, do Amado], vai daí, atribuíu-me o prémio Dardos, que anda ai ao rubro entre blogues. Já foi em Outubro, mas só agora comecei a acordar para a minha órbita com olhos de ver. Vi os voos da borboleta durante a limpeza matinal do planeta.
Cá vai:


O Prémio Dardos reconhece o valor de cada blogger ao transmitir valores culturais, éticos, literários ou pessoais e que de alguma forma demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto naquilo que escrevem. Por outro lado, esta é também uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.

Quem recebe o Prémio Dardos e o aceita deve seguir algumas regras:
1 - Exibir a imagem;
2 - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;
3 - Escolher quinze outros blogs aos quais entregar o Prémio Dardos.

Como prezo a órbita ali do lado, e para lançar o caos [o caos respira imagem, dizia o Bacon] e como, para mim, a minha lista (e, por isso, é a minha lista) "transmite valores culturais, éticos, literários e pessoais", o prémio Dardos é para a lista.

sábado, novembro 29, 2008

& II

dias há que se mora cerrada numa fotografia. daquelas mencionadas por Roland Barthes na sua Câmara Clara. que se morre e vive para sempre, ao mesmo tempo. sim, é possível viver e morrer para sempre e ao mesmo tempo. ficar dentro do rectângulo da fotografia imortal. acontece nos intervalos de tempo. nos períodos dos ponteiros. quando se assiste displicente ao correr dos dias. da vida.

sexta-feira, novembro 28, 2008

Um Café

Um café no feminino traduz-se em revista.
Blend de vários sabores, a nascer de várias culturas, mais escuro, um bocadinho mais claro, menos torrado, mais torrado. Quente, morno, frio. Um restinho no fundo da chávena. Ou a roçar a borda. É uma revista assim. Feita para beber e acordar. Viver, sobretudo.

Em Serralves, nos chamados cafés culturais, como o Gato Vadio. Ela anda por ai, a fazer gemer o Porto. Tem óptimos escritores, e estórias do arco-da-velha.

Eu dou o meu contributo com a Poesia Maldita. O mérito é todo do Tomás Carneiro.

quinta-feira, novembro 27, 2008

H

de Herberto Hélder

a acerba, funda língua portuguesa,
língua-mãe, puta de língua, que fazer dela?
escorchá-la viva, a cabra!
transá-la?
nenhum autor, nunca mais, nada,
se a mão termica, se a técnica dessa mão,
que violência, que mansuetude!
que é que se apura da língua múltipla:
paixão verbal do mundo, ritmo, sentido?
que se foda a língua, esta ou outra,
porque o errado é sempre o certo disso


excerto de A FACA NÃO CORTA FOGO

quarta-feira, novembro 26, 2008

Acho que nunca apreciei tanto trabalhar as 8 horas diárias como agora. Ou até 12.

segunda-feira, novembro 24, 2008

A maioria dos políticos envolvidos no caso BPN é PSD.
A maioria dos políticos envolvidos no caso Casa Pia é PS.

quinta-feira, novembro 13, 2008

respira fundo. respira fundo. respira fundo.

outra vez. vá, tu consegues.

respira fundo. respira fundo. respira fundo.

afinal, sabes escrever e falar. à partida é fácil. mas o que é simples não se torna complicado?

[falta pouco para me refugiar numa canção dos sigur rós - onde tudo é maresia azul]

quinta-feira, novembro 06, 2008


Quando olho o ceú sinto vertigens.
Antídoto: voar!

quarta-feira, outubro 29, 2008

NOSEGREDO

O único segredo partilhado.

As minhas melhores amigas que são estilistas, ou melhor, designers de moda [pelos vistos não é a mesma coisa...faça-se jus à diferença] acabaram de abrir o atelier de Noivas e Moda mais extraordinário de todos os tempos, do mundo inteiro, de Portugal, da zona Norte e do Porto e de Paços de Ferreira. Não, não estou a exagerar.

Portanto, meninas e meninos, noivas e noivos, enamorados, casadoiros, pessoas com fetiche com vestidos de noiva, lingerie, moda urbana, rufem os tambores porque já têm onde partilhar o vosso segredo. Onde? Nosegredo, por Ana Paula Aguiar e Natália Brandão: nosegredo@gmail.com/ R. das Uveiras, 105A - Paços de Ferreira. O blog está em processo de incubação.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Português aprende português [em Londres]


[José Carlos Farinha, Maio de 2008]

A manhã está como a maioria das manhãs em Londres – de nevoeiro – mas António brilha e sorri no meio da bruma e da multidão, que num sábado assola o British Museum, na tentativa de resgatar para o presente os antepassados históricos do mundo. No pátio do museu, António, que conta este ano 30 anos, perde-se entre as gigantescas colunas, a imitar a Grécia Antiga, e deixa-se confundir nas camisas brancas de homem. É um rapaz pequeno, magro, de sorriso largo e um brilho que parece afectar a habitual neblina londrina. Realça-se. Ana, de 26 anos, não o larga de vista e acompanha-o no seu passo pesado e martelado. Ambos riem muito. Dirigem-se para a London Review Bookshop, umas das muitas livrarias da Grande Londres, e lá dentro perdem-se nos títulos. Ana conhece a dança das letras na capa de cada publicação. Já António esforça-se por contabilizar o abecedário, somar as letras para perceber essa dança.
Ana e António contam 17 lições de português e a desenvoltura do aluno para a gramática de Camões está de vento em poupa. Ana, a professora, e António o aluno.

Retrato de uma luta
António nasceu e cresceu na Madeira até aos 17 anos, depois “abalou para o Seixal”, na região de Lisboa, onde viveu até o ano passado, altura em que decidiu arriscar a vida em terras de sua majestade. Corajoso, rumou até Londres, mas primeiro “trabalhou, trabalhou, trabalhou”. Na cidade que nunca dorme arranjou trabalho numa empresa de limpeza, e através desta, foi trabalhar no consulado português. Foi aqui onde conheceu Ana – quem lhe viria a ensinar como se escreve a língua dos poetas portugueses, o idioma que nasceu e cresceu com ele, mas que a sua aprendizagem “é pouco valorizada na ilha” – como conta António. Cresceu sem ler ou escrever. As palavras saíam da boca como crónicas de som.
Ana ensina o abecedário a António, e a contrapartida é a evolução que o aluno português de português apresenta.
Duas horas por semana é o suficiente para António ser hoje capaz de enviar uma simples sms. Uma batalha. Uma batalha que Ana combate todos os dias. “Não são apenas as duas horas de aulas. Envio-lhe sms’s para avaliar a capacidade de resposta, para o fazer ler e ter empenho a escrever”, conta. Aliás, como as novas tecnologias são a sombra de cada dia, ensinar português traduziu-se por também adestrar os programas de comunicação virtual: o skype, o MSN, e claro, endereço de e-mail.
A última novidade na casa de António é um computador portátil: “Estou aprender a manejar o bicho” [risos].
Ao aprender português, António não só contraria o que diz ser constante na Madeira – o analfabetismo - como também conquistou a sua privacidade. Na adolescência, confessa, era a irmã quem lhe valia para escrever cartas de amor. “Uma vergonha”, recorda António, ao mesmo tempo que tapa os olhos com as mãos. As raparigas por quem se apaixonava recebiam cartas que teriam já sido lidas, numa espécie de lápis azul, no entanto com um objectivo adjuvante. “Toda a minha correspondência era recebida pela minha irmã”, diz.
Numa família de sete filhos, António é dos mais novos, e como tal “já não era necessário aprender a ler e a escrever”. As actividades piscatórias que orientam o sustento da sua família necessitavam do trabalho de António, e como destaca, “basta um ou outro elemento de cada família na ilha ler e escrever, o resto tem de ajudar nas tarefas de trabalho”.

Objectivo: até ser capaz “de ler sozinho”
É no consulado português que Ana vasculha todo o tipo de recurso para ajudar nas aulas de português do seu aluno: todas as publicações do ensino básico são material premente. Conheceu-o nos corredores do consulado. “Vi um rapaz tímido a tocar-me o braço e perguntou se era professora, se estaria disponível para lhe ensinar português”, lembra.
Ana estudou História nos auditórios de Coimbra entre 2001 e 2006. O ano passado rumou até à Grande Londres, onde dá aulas privadas de português, e onde conquistou o documento britânico que lhe permite ensinar no Reino Unido. Com 26 anos, e apenas há um ano em Londres, Ana pode leccionar no ensino público inglês e está inteiramente activa dentro da comunidade portuguesa, participando em projectos que visam a total integração de portugueses dentro das fronteiras britânicas. Para já, o grande desafio é insistir no A B C do António até que “seja capaz de ler sozinho”.

domingo, outubro 19, 2008

&

Há uma hora em que o relâmpago se incendeia no peito e as cores ganham cor de cores e se desenha um arco-íris. Apaga-se a dor, e troveja uma felicidade enganadora, além deste mapa que projecta um corpo esquecido. Tudo são energias de enganos fulminados pelo céu zangado, preso a um coração que apodreceu porque viveu de mais. Viveu além de mim. O incêndio permanece sempre nos púmbleos passos. Taciturno momento presente nos subtis arco-íris.

sábado, outubro 11, 2008

'a cada enxadada, uma minhoca'

Custa-me ver bons profissionais do jornalismo - que não exercem a profissão - sentados no sofá [e nem falo de mim] a ver as notícias na televisão; ou melhor, o desfilar do descalabro jornalístico.

No Jornal Nacional da TVI de hoje (de há pouco) disse a jornalista que "dois assaltantes de raça negra..."

Aquela citação causou-me tamanha naúsea que nem ouvi o resto. Apenas abri a boca de espanto, e foi tanto o espanto, que até a minha mãe ficou curiosa sobre o meu 100% espasmo.

Raça negra? Não ficaria melhor anotar 'origem africana'? Aliás, qual a razão para mencionar a "raça"? Mas aquela jornalista esqueceu-se dos dez pontos do NOSSO código deontológico?

[Como diz a minha avó: Valha-nos Deus]

quinta-feira, outubro 09, 2008

"A minha pátria é a Língua Portuguesa"

Párem todos os carros da avenida. Nela desfila a pátria, que irá desaguar na praça da Poesia, onde acena a rainha - a Língua Portuguesa. É aqui onde vivem todos os poetas portugueses. E mais um: Este.

quarta-feira, outubro 08, 2008

'se me beliscares acordas-me do sonho'

(pelo telefone)
J: sra. dona Maria?
sra. dona M.: Eu não estou!


Por vezes eu também não estou. Estou e não estou. Vagueio a quilómetros à frente, além o futuro. E, por isso, não estou. Porque além o futuro, apenas existe o quadro da saudade de uma estação que não se sabe, de uma paisagem que não se adivinha, e de um passeio que não se sente. Eu percebi a sra. dona Maria, quando esmoreceu que não estava (em casa). Na verdade, estava alheia à realidade de um presente que se adia sempre. O hoje é realidade, o amanhã é sonho.

Eu não estou = se me beliscares acordas-me do sonho

sexta-feira, outubro 03, 2008



Os meus sonhos têm pontas espigadas e dormem ao relento.

quarta-feira, outubro 01, 2008

Tenho saudades minhas. De mim. Do meu cheiro. De dentro da porta do meu corpo. Do meu corpo. Da bolha fora dele. É de mim, do Ser, de quem sinto a falta. Yearning.

sábado, setembro 27, 2008

The whisper



Finalmente, em Londres, vi Lost In Translation. E, claro, nao descansei enquanto nao ouvi o whisper. E, claro, nao foi nada de extraordinario...

segunda-feira, setembro 22, 2008

Do Ary

sem título

É no silêncio de uma tarde morta
que acendes os ponteiros que batem
cá dentro,
dentro deste aparelho avariado
que é o meu coração.
Nadas na água morna das tardes de domingo
quando os pensamentos tiram férias,
e os sentimentos regressam ao trabalho.
Agitas as notas musicais de uma melancolia
que cresce em dó maior: a melancolia de um corpo vazio riscado numa pauta abandonada.
É no silêncio de uma tarde morta
que regressas a este sangue quente em todo o teu vigor.
És uma fotografia a preto e branco,
que adormece lentamente debaixo do cobertor que é a minha pálpebra.
É aqui que transpiramos os dois: debaixo da minha pálpebra, onde os sonhos têm carteiro, onde a pele se chama paixão, e o prazer tem o teu nome.

sexta-feira, setembro 19, 2008

Intermezzo.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Obrigada Anthero por relembrares os cantos de um passado que estragou o futuro, quando na rouquidão da minha noite púcara gritaste o que aqui escrevi.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Indisposições literárias|oblíquas. Não sei se vos acontece: imagens que gemem. Deficiência minha, pela certa! Andar pela rua e se uns clicam na máquina, a mim, uma certa imagem, pára à minha frente, e geme. Diz-me estórias sorrateiras. Conta-me aventuras. Outras vezes, as palavras vêm ao meu encontro, acomodando-se na berma do ouvido "a fazer barulho". Relevem estas indisposições, que são apenas isso. Não têm verdade, nem mentira. É a minha cusquice pelo mundo invisível Apenas.

[Eco de 13 de Junho.]

segunda-feira, setembro 15, 2008

vómitos literários

Se pudesse, T. cuspia-te a cara toda até sangrares de raiva. Mesmo sabendo que não irias sangrar. Não tens o talento de ser humano. É difícil ser-se humano, no cerne podre de uma pele sem carne.

T. pensa: que se foda. E que se foda mesmo. Tantas caras para cuspir e por cuspir.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Nunca encontrei...

nos painéis das estações,
nas listas de horários,
nos rótulos das malas
ou impresso nos bilhetes...

um destino que me servisse.


anthero monteiro

Foi há um ano.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Viver

assistir
impotente
ao ruir das horas


anthero monteiro

domingo, agosto 31, 2008

morreu joaquim castro caldas

crítico literário. era o o rótulo que lhe colocavam. eu cá preferia outro: traquinas da poesia e de tertúlias. tantas no pinguim café, no porto. não estive presente na última, 'unfortunately'. creio que "da morte volta sempre em vida", diria o sérgio godinho, tal como o amor. morreu e eternizou-se.


só depois de te beijar
uma criança te pede um beijo
para distinguir a inocência do desejo


joaquim castro caldas

segunda-feira, agosto 18, 2008

Destruimos sempre aquilo que mais amamos, seja em céu aberto ou no meio de uma emboscada (...) os cobardes destroem com um beijo, os valentes destroem com a espada.

Impressiona-me (também) a letargia do indivíduo, em particular, e da sociedade, em geral. O - mudo - Primeiro de Janeiro deixou de respirar e não se passa nada. 32 jornalistas foram ilegalmente despedidos, e escrevem-se crónicas. As crónicas ajudam, lançam palavras bonitas, relembram as pessoas - mas não passa disso: de floreados bonitos, numa fotografia bonita, mas sem resultados. Mas será que este País morreu? Será que o mundo enferrujou e já não circula na sua órbita? E o que aconteceu aos contos: não é suposto os maus serem presos, e os bons retomarem os seus lugares de honra?

sexta-feira, agosto 15, 2008

Nunca consegui misturar-me nos outros corpos, estão demasiado vivos, doem-me quando lhes toco. Observo-os, uso-os, e no entanto mantêm-se tão distantes. Se calhar envelheci mais depressa ao tocá-los. A dor vai sulcando o rosto e comprimindo o coração, não sei... talvez seja apenas o receio da noite com os seus desmedidos poços de cinza. (...) No fundo estou-me nas tintas para isto tudo. Tornei-me ladrão. Roubo-lhes um beijo, uma erecção, um gemido de esperma, uma carícia... roubou-lhes tudo o que posso e estou-me nas tintas... é isso mesmo, estou-me nas tintas para o que pensam. Nada tenho a perder, a sedução é uma das artes do ladrão, raramento me deixo roubar. Mas que te importa tudo isto, Beno? Sossega, sossega porque o mundo está sujo de indiferença.

Al Berto, Lunário

sexta-feira, agosto 08, 2008

iLove



Nada de novo. O céu no alto, o chão cá em baixo. O sol brilha, o vento bate, o ar poluído faz A. tossir. Nada de novo. 9h levantar. 01h deitar. E no meio espera-se a cada sopro do coração que o dia entre em erupção. Mas não. Permanece calado, a saborear segundos estéreis de fantasia, viscosos de vazio. Mas como diria Lanza del Vasto "uma revolução precisa de tempo para se instalar". E, assim, quando o tempo der tempo ao tempo pode ser que o céu desmaie até onde o esperam e o chão suba até onde a retina não o possa alcançar, o vento sossegue e o ar suavize.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Citado no blog "Esgravatar"

Às voltas na campa
Manuel Pinto de Azevedo Júnior deve estar às voltas na campa. Foi este homem que tornou o “O Primeiro de Janeiro” reconhecido em todo o país, de norte a sul de Portugal. Apoiou jornalistas, foi patrono das artes, lançou um suplemento cultural, o Das Artes Das Letras, foi o primeiro a imprimir jornais com cor e apostou numa secção de Internacional “a sério”, naquela época em que ainda havia “lápis azul”.

E agora o “Janeiro” volta a ser reconhecido em todo o país. Mas por outras razões. Um empresário de comunicação social, que até tem carteira de jornalista, mas com interesses em muitas outras áreas, resolve pegar numa redacção inteira e metê-la na rua. Sem explicações, sem indemnizações, com salários em atraso, com subsídios de férias por pagar. A directora de “O Primeiro de Janeiro”, que foi quem deu a cara pela administração, disse aos seus próprios jornalistas para irem para casa, que metessem os papéis para o fundo de desemprego e que depois, lá para Setembro, ia chamar todos aqueles que quisessem voltar a trabalhar com ela. Num “novo Janeiro”. Só que três dias depois, o jornal já estava cá fora, nas bancas, com um novo grafismo, com um novo director, a ser feito por dez jornalistas de um suplemento de desporto.

O empresário de comunicação social, que até tem carteira de jornalista, socorreu-se muito da figura de Manuel Pinto de Azevedo Júnior. Todos os anos, lá pelo Natal, entregava prémios em seu nome e do “O Primeiro de Janeiro”, a personalidades que se destacavam na política, na Imprensa, no mundo empresarial, nas artes. Todos os anos, alguns de nós lá iam jantar ao casino e assistir à entrega dos prémios, que até eram significativos. Entre os premiados figuram Marcelo Rebelo de Sousa, Pinto Balsemão, Belmiro de Azevedo, José Pacheco Pereira, Luís Silva, Agustina Bessa Luís, Manoel de Oliveira. Enaltecendo a “memória de Pinto de Azevedo”, o empresário apertava a mão aos premiados e posava para os flashes e holofotes. Era o grande momento anual de “O Primeiro de Janeiro” e do seu proprietário.

Nós, os 32 jornalistas, que fomos postos na rua sem explicações, voltamos agora às notícias, mas do outro lado. Somos “a notícia”. Vamos tendo o consolo das nossas fontes e dos nossos leitores, que nos têm mostrado solidariedade, e de outros camaradas de profissão, de antigos trabalhadores do jornal, de anónimos de todo o país que reconhecem o absurdo desta situação completamente ilegal. Não percebemos é o silêncio e a inoperância das autoridades do Estado. Descartáveis, é como nos sentimos. Usados e deitados fora. Pinto de Azevedo deve estar mesmo às voltas na campa.


Paulo Almeida
Jornalista descartável a 1 de Agosto de 2008
(Texto escrito para publicação hoje no jornal 24 horas)

quinta-feira, julho 31, 2008

O Janeiro

Há uma estante cheia de pó e migalhas de letras do século passado mesmo a incomodar o nariz de quem tecla ao seu ladinho. O corredor é estreito. A sala é pequena, mas já conheceu várias reformas. As secretárias tinham nações diferentes, e o mesmo se passava com os pc's. Estes eram muito peculiares. Mas como diz a minha avó, que poupa tudo, "dava para o gasto". Apertavamo-nos todos naqueles três corredores - como uma daquelas famílias, pobres no cofre, mas ricas no Amor. E o Amor é a dedicação de cada letra, de cada agenda, de cada hora fora do relógio de trabalho. Os cafés de segredos, as manias, e a luta entre o bem e o mal. O Janeiro é um mês assim: um nevoeiro à espera de dias melhores. Sempre foi assim. O Amor à letra, à agenda, a cada hora fora do relógio.
O Janeiro é um brinde ao cigarro na porta de trás, ao café torrado, à casa-de-banho com mais crítica do que papel. É o mês quente. Sim, o Janeiro é muito quente. Um mês exótico, lá na rua Coelho Neto, vizinho das prostitutas.
[Muitas vezes estendi a mão com o jornal a mulheres que o queriam ler para não morrerem de aborrecimento - sintoma de profissão] O Janeiro é um mês com uma estante cheia de pó e migalhas de letras do século passado. De há mais do que o século passado. Nesta cidade, algures, há uma estante com migalhas de letras que duram há 140 anos. Eu vivi no mês Janeiro. Aquele cheiro incomodava o nariz. As migalhas de letras sujaram-me casacos. Os pc's tornavam-me um verso de Bocage: negra como a noite. E mesmo assim, cada edição era uma pinga de suor e sangue pelo Amor à letra, à agenda, a cada hora fora do relógio. O Janeiro não é um mês de todos, é um mês de alguns. Daqueles que se sentiram incomodados com a estante de 140 anos, e mesmo assim, mesmo sujos de pó, com o nariz entupido, pingaram e pingaram e pingaram suor e sangue para que cada papel, cada edição fosse a Ode ao Jornalismo - ainda que remando contra alguma estupidez capitalista, e ao próprio verso da profissão.

O ano perdeu um mês: O Janeiro

segunda-feira, julho 28, 2008

O Elias

O Elias é um rapaz especial. No primeiro dia em que o conheci, em Londres, no restaurante «The Real Greek», onde trabalhei, ele havia-o confirmado: "Sou um rapaz especial". Eu é que não o havia notado - assim à primeira vista. Nasceu na Grécia mas não é grego,é latino puro. Ele é um "Vlach": oriundo do império Romano. "Puro", explicava-me ele entre vassouradas no chão. "Nós temos a nossa própria economia, compramos os bens uns aos outros, e apenas restam umas cem famílias". O pior é que este tipo de regra também de aplica ao amor e às paixões. O Elias, especial e rebelde, apaixonou-se por uma chinesa e recusava-se a casar com a romana que lhe estava destinada. O pai enchutou-o de Atenas, e o «The Real Greek» adoptou-o. Ali passava os dias a lamuriar-se por estar longe da namorada: a miúda estava mesmo na China, ou melhor na conchichina, porque o rapaz não se recordava do nome da terra da amante. Ele tinha um plano: juntar dinheiro, ir buscá-la, casar-se e viver feliz para sempre. Assim projectado no papel, o plano parecia-me óptimo, mas o "they lived happily ever after" é coisa de cinema. Certa noite, no restaurante, perguntei-lhe como iam os astros, ele cabisbaixo, respondeu que não muito bem. O «fucker» do irmão havia bufado tudo ao pai, e por isso, o "they lived happily ever after" tinha sido riscado do seu percurso. Ele terminou tudo com a rapariga, e dias mais tarde chorava como uma criança no meu ombro. Ou era a rapariga, ou era a família. O restaurante chorava com ele. A estória de amor e desamor do Elias entranhava-se nos corações que por ali passavam: começamos a resmungar uns com os outros, e ponderávamos juntos: O que é mais importante, um homem largar a família devido a uma mulher, ou largar a mulher por causa da família. Ele ainda chorou duas semanas no meu ombro. Eu em silêncio porque não tinha a poção mágica para lhe oferecer, ele em silêncio, porque procurava uma resposta. Foi numa sexta à noite, numa dança de pratos e vassouras, e copos, e guardanapos mal dobrados, que Elias havia tomado a decisão: "Escolhi a família, assim poupo o meu pai a um enfarte, e a minha mãe a um desgosto". E, afinal, o "they lived happily ever after" aconteceu. Mas não ao Elias. Aos seus pais.

segunda-feira, julho 21, 2008

A preparação da minha tese tem sido um parto difícil. Eu bem grito «Vontade» e no ar escuto apenas o eco: von...tade.tade.tade! E assim vou indo de palavra em palavra. De página em página. Às vezes tiro bilhete até o weblog, mas nem este me salva. Isto parece um terreno inóspito, eu sei!Isto só pode ser reumatismo: reumatismo nos sentidos. A audição ainda me vai valendo: os Beirut, os Radiohead, os Depeche, os Sigur lá me vão segredando que deveria regar este jardim sob pena de se tornar num deserto...

sexta-feira, julho 11, 2008


[Londres, Junho de 2008]


O anjo flutua do avesso por uma estrada recta. É empurrado pelo vento. Não há vizinho que se intrometa. É ele e o céu. No chão toda a gente barafusta, ele de cima ri sempre: porque tem um carrossel só para ele. Nenhum olhar arrisca a sua brincadeira. E ele não arrisca a aterragem sobre a cegueira dos olhos presos aos sapatos. Ele bebeu um trago do vento, e é isso que o alimenta.

quinta-feira, julho 10, 2008

porque gosto de poesia...

"Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos."

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como esta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche esta estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque este sea el ultimo dolor que ella me causa,
y estos sean los ultimos versos que yo le escribo."

Pablo Neruda

sábado, junho 28, 2008

devaneios I



Dentro dos olhos o mundo naufraga. O mar agita-se em instrumentos de acordes incertos. Naufragar é viver - diria Pessoa.

C. encolhe-se na vergonha mentida do seu olhar. Não sei se é ele quem não é igual ao mundo, ou se é o mundo que não é igual a ele. Não sei se é ele quem não se adapta ao mundo ou se é o mundo que não se adapta a ele. Não sei se é ele quem não tem sensibilidade para o mundo ou se é este que lhe não oferece sensibilidade. Não sei se é C. quem deriva nas margens do mundo, ou se é o mundo a marinar nas margens de C. Não sei se é ele zangado com o mundo, ou este zangado com o outro. Não sei se é C. quem não dança com o mundo, ou o mundo que não dança com ele.

Não sei se sou quem lê errado nos olhos, ou se são os olhos que mentem.

terça-feira, junho 24, 2008

Voltei...


[Brick Lane, Junho de 2008]

Nesta cidade tem de se entrar devagar, para que ela também vá entrando em nós devagar. O Porto tem uma alma, muito sua e muito especial. E as cidades que têm uma alma não são lugares de passagem: são navios naufragados, à espera de um caçador de tesouros.

Miguel de Sousa Tavares

[consultando agora o relógio até passou rápido=)]

quarta-feira, abril 02, 2008

são três e meia da manhã e o relógio dói no pulso. adivinha-se o destino dos ponteiros. profetizam-se sonhos com prazo. acelera-se o silêncio. e bate-se contra a madeira.

venho já.

sexta-feira, março 21, 2008

Feliz Primavera!

quinta-feira, março 20, 2008

...quem dera...

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Pessoa

segunda-feira, março 17, 2008

há uma manhã pintada a pôr de sol que cresce desde a ponta dos pés até à ponta dos cabelos, rebola pelas costas e só termina numa noite clara.

quinta-feira, março 13, 2008

fotografia antecipada

O sol escorrega pela rua como um tapete na madeira da sala ampla, onde uma televisão faz barulho. Uma criança corre pela infância dos carros, esboça o corpo pela felicidade. Um homem ergue um jornal com estórias tristes, outras assim-assim, e outras menos tristes. Uma mulher leva a roupa molhada num estendal muito além da sua altura.

Os vizinhos gritam. Os carros são os mesmos. O café continua no sítio. O cheiro do mar sobe ao nariz, e o arroz de polvo espalha-se pela mesa.

Depois, no teatro, ainda cabe o café com aquele biscoito. Alguém sacode as migalhas para o bem dos pássaros. O carro lança-se pela mesma rua, onde o sol escorrega até encontrar dois pares de vidas, sentados onde se sentam as flores. Aí nascem beijos e abraços e palavras proferidas a lápis de cor.

Quando o sol enrola-se rua fora, e desaparece por fim, e quando a noite ganha vez, o cobertor embala várias vidas numa só: são 4-4.