um weblog sobre literatura, viagens, momentos, poesia, sobretudo, sobre a vida. enfim, um weblog com histórias dentro.

terça-feira, dezembro 29, 2009



A Alice pergunta ao gato que caminho tomar. O gato responde que depende do lugar. A Alice diz que isso não importa, então, o gato diz que também não importa que caminho tomar.

Make it simple, never easy.

segunda-feira, dezembro 07, 2009

o mar atravessou-me a cabeça. houve uma enchente. uma inundação. e as ondas batem, batem, batem. e os salpicos levitam, levitam, levitam.
e as ondas, e os salpicos, e o mar.
quando fecho os olhos, parece que o mar se fecha dentro de mim.

terça-feira, novembro 24, 2009

Localvisão TV

Não tenho muito jeito para promover ou fazer publicidade ao que quer que seja. Mas tenho (bastante) jeito para partilhar o que acho especial e distinto.

A partir de agora estou à distância de um clic:-)

www.localvisao.tv

Basta entrar no site, clicar no distrito pretendido e na capital de distrito.
Eu estou nos distritos do Porto, Aveiro, Braga e Viana do Castelo. Mais Porto e Aveiro.

Também estamos no sapo vídeos através da busca "localvisão" e respectiva cidade/concelho.

Estamos a começar, e portanto, temos todos os constrangimentos de quem começa. Mas, como toda a gente que inicia algo, estamos cheios de energia, ideias, vontade e ousadia.

Eu já fiz a minha parte e vocês? ;)

segunda-feira, outubro 26, 2009



"Dream burn but in ashes are gold".
o sol está nascer.
de mim para o mundo.
à medida que o caixão passa, o sol pousa no asfalto.
ela não vê o corpo nu. mas o sol faz transparecer a madeira.
e a música dos sinos é muda para quase todos os ouvidos.
16h16.
há um sapateado na procissão solitária do cemitério.
há uma vida a tombar,
há uma sombra melancólica que ninguém faz caso.
e há um ranger. devem ser os anjos a abrir as portas.
17h17.

terça-feira, outubro 06, 2009

o ceú não é azul, é verde.
no chão forrado de amarelo sujo, cantam rotas com sabor a vinho e queijo.
e sob a onda da serra, há um velho que espreita o futuro.
mas ali não há vindouro. há antepassado.
e no rastilho da tradição, só um som se apressa: o dos bois e o das vacas...mu...MU.

segunda-feira, setembro 21, 2009

au revoir simone

às vezes somos como as avestruzes, enfiamos a cabeça na rotina do dia-a-dia, e esquecemos tanta coisa maravilhosa que vive em paralelismo constante com essa rotina.

segunda-feira, setembro 14, 2009

Mat Hall é o piloto australiano que voou no Red Bull Air Race e aterrou no terceiro lugar da corrida. Esteve há pouco [22h15] em directo para o canal 9 da televisão do seu país, a partir dos estúdios da SIC/Porto.
Veio desde o hotel, onde está hospedado, sozinho, sem aquela coisa dos assessores, ao contrário da maioria dos convidados do nosso portugalex. Quando a emissão foi para o ar, a partir da primeira edição da manhã na Austrália, os jornalistas animados, mantiveram um diálogo informal e descontraído com o piloto - com gargalhadas à mistura. A entrevista acabou, e ainda pudemos ouvir a emissão australiana a quebrar para intervalo...com música [fixe]...ao contrário do que acontece no nosso portugalex, onde as edições da manhã, comparativamente, são mais apagadas e ásperas.
E somos um povo latino!
Na escola (em Rio Tinto) do meu irmão existem dois lavatórios para mais de cem crianças (estimativa generosa - são muitas muitas mais). Ou seja, o plano de contingência contra a Gripe A, naquela escola do ensino básico, é pedir aos pais que comprem toalhetes para que os miúdos desinfectem as mãos...em tempo útil...porque 15 minutos de intervalo passam rápido para que mais de cem alunos lavem as mãos em DOIS lavatórios, antes de emborcarem o lanche.

Mas é como diz o cartaz do Valentim...

"Em Gondomar, os gondomarenses é que sabem".

segunda-feira, setembro 07, 2009

Mano(de 8 anos): A Ferreira Leite é de que partido?
Joana: PSD - Partido Social-Democrata.
M.: e o Sócrates?
J.: PS - Partido Socialista
M.: e aquele Portas ou lá o que é?
J.: chama-se Paulo Portas, é do PP - Partido Popular
M.: e qual é o melhor?
J.: hmm...

quinta-feira, setembro 03, 2009

muitas vezes olhamos o relógio e vemos os ponteiros passarem. sem alma. esquecemo-nos que com eles - os ponteiros - passa a vida, e tudo o que ela é para nós: o que amamos, o que amamos menos, o que detestamos, o prazer, os desgostos, as pessoas, o lazer e o trabalho.
e no segundo em que admiramos o ponteiro do relógio, apercebemo-nos que a vida passa realmente rápido, a uma velocidade veloz, tipo TGV.
e depois como consequência, as perguntas fazem nock-nock: como aproveitamos o tempo? com quem? a fazer o quê? gastámos mais tempo a rir ou a lamentar? a esforçar ou a reclamar?
...
isto para dizer que ontem fiz uma coisa, da qual gosto muito, mas - há sempre um mas - faço pouco. fui visitar a poesia, onde ela vive ao seu mais alto rigor. onde sangra cada palavra, onde levita a cada autor, que através dela ganha presença.
...
a poesia sussurou-me a liberdade dos sonhos - possíveis - lembrou-me do que quero fazer, de tarefas que tinha arquivado na caixa dos dias que ficam na arrecadação.
...
e vou fazer. vou vestir e maquilhar a cores vivas o que a vida escreveu para mim, o que eu tinha esquecido na mesa do escritório, debaixo da papelada do dia-a-dia.

terça-feira, agosto 25, 2009

Já descobri o problema das minhas dores de cabeça: a carris do lado esquerdo do cérebro tem frequentemente horas de ponta. Sonhos que se atropelam. Eles que se entendam, que eu - como diz o Supremo - tenho mais do que fazer.

segunda-feira, agosto 24, 2009

Enfim, rendida ao twitter, tenho morada aqui.

sexta-feira, agosto 14, 2009

Por este andar, um destes dias, acredito [a sério] que dou uns toques na informação sobre futebol.

quarta-feira, agosto 12, 2009

- Avó, Avó!!
- Ahhh, quem és tu? Ai, que tenho mais uma neta e não sabia.


Olhos rasgados até ao passado que já vai longo, de uma vida que dura há 89 anos.

[Detesto estes números: 79, 89, 99. Dá a sensação de uma pausa, de um tempo maior ao real, até à próxima estação da idade.]

Cabelos brancos, unhas pretas de muito campo, pernas de muito andar até à igreja. Pele enrugada de muito criar. Mãos gastas de muito trabalhar.
Mente cansada da muita catequese que deu. De muitas estórias decoradas.
Mente sumida.
Transparente. Apagada.

O que não é mau de todo.

Pode alhear-se dos conflitos vazios entre filhos.
Do filho que não fala, mas grita.
Da morte precoce do marido que "sempre foi bom".
Aliás, este é dos poucos vértices atravesssados na sua vida, que não esquece.

Só um segundo. Ahhh onde vives? Ahh, pois, eu criei-te, peguei-te ao colo, e dava-te de comer.

Sim, Avó, é verdade.
Não é avó de sangue. Mas é avó de vida.

E, comove-me, o aceno pausado que me faz na despedida, a desejar-me "boa viagem".
A não saber, se esta será a última vez, que nos vemos.

É o mistério da vida: nunca sabemos.

terça-feira, agosto 11, 2009

Faz-me espécie...
que pessoas com educação, formação, adultas, em lugares de requinte,
me digam que não entendem como há outras tantas pessoas que apostam em mestrados, em continuar a estudar, a ir para fora, enfim, a esforçar-se.

Eu resposto:

Porque há pessoas que quando olham o mundo e vêem sol, sabem que a outra metade é sombra, e vice-versa.
Porque há pessoas que gostam de viver. Que não se acomodam.
E, sobretudo, não precisam de saltos altos para crescer.

terça-feira, julho 28, 2009

da ausência.
há dias que são sumidos.
perdidos no ar.
cerimónia fúnebre. apenas. isso.

quarta-feira, julho 22, 2009

uma manhã de neblina
faz aflição dentro do mar
que navega no peito,
antevê tempestade
gota
a
gota

o respiro da onda
vai em lume brando.
caminhando
contra a angústia
de uma saudade
resistente.

o barco morre
na linha do horizonte
onde
se espera, em esperança afiada,
um sol
vermelho, como o sangue
redondo, como o mundo.

domingo, julho 19, 2009

E hoje também é notícia... [:)]

o aniversário do mano, na infantil maratona dos 8.
Parabéns, principezinho!
O tal macaco frente à sua trupe azul e branca, no Dragão, mais parece uma daquelas sessões do reino de deus/iurd. O que o tipo no púlpito diz, é motivo de eco parolo inquestionável. Muito próximo do nazismo que nunca vivi.

sexta-feira, julho 10, 2009

Moment,
Homent.

A Avenida dos Aliados, no Porto, é palco para uma exposição que faz pensar.
Homent.
Uma fila de homens, coloridos, posicionados ao longo do corredor central da cidade.
Homent sozinho. Homent a sorrir. Homent triste. Homent feliz.

Nós Homent.

quarta-feira, julho 01, 2009

"Permanecem o Amor, a Fé e a Esperança, mas o maior deles é o Amor".

sexta-feira, junho 12, 2009

Crónica de um Amor à venda

Saíste-me cara, tu. Fizeste a mala e deixaste-me o odor de todos os lençóis gastos em filosofias angustiantes de um prazer adiado.
Não restou uma unha tua roída, caída ao chão, abandonada.
Foste embora. E foi isso. Empacotaste roupa, objectos e memórias. Levaste contigo todas as sinfonias. Não tive herança. Apenas uma placa colada na janela da frente, onde se lê: “Amor à venda”.
Procurei-te em todos os recantos de uma casa cheia de nada. Foste embora e contigo foram todas as memórias. As lembranças sumiram-se dos metros quadrados da habitação recheada de vazio. Restou a ausência. A tua. E com ela convivo. Trato-a bem. Afinal, tu és ela - a ausência.
Acordo com o hálito podre da tua falta. Deito-me enroscado na tua saudade.
Permaneço viciado naquele canto do armário onde tu guardavas a tua mala. Busco alguma memória que não tenhas enfiado na bagagem do carro. E agora meteste-te ao destino. E criaste a metamorfose que me consome e vicia. Sou capaz de ausência e nada mais. Abraço-me a mim, que é o mesmo que abraçar o nada. Tu és nada. És a ausência. A ausência vestida de dor.
Ontem percebi por que razão as pessoas se suicidam: não é por falta de, mas por excesso de. Excesso de ausência. Excesso de ti. Devias ter empacotado tudo. A tua ausência também. Metias na mala escura a saudade e o teu hálito podre. Deixavas-me sossegado. Ias embora sem fazer o mínimo de barulho.
O problema é que fizeste ruído ao bater com a porta. Uma pancada forte. Ainda sinto no coração. Está trémulo. Resiste, é verdade. Mas continua em estado de choque porque nunca se bate com a porta, nunca se faz ruído ao sair de casa. Há sempre aquela remota hipótese de os vizinhos acordarem, haver um enfarte, sei lá.
Eu preocupo-me, sabes. Não gosto de enfartes. Mas gosto de memórias. Foste má. Lançaste-te ao destino. E agora ocorre-me que também me levaste contigo. Sim, só agora. Fui junto com as memórias. E isso dói-me. Não devia ter ido. Dói-me e comove-me. Dói-me porque me tratas sem pudor. E, depois, comove-me, porque me queres lembrar.
Pois, eu sou mais do tipo apagar. Erase. Pareço uma gaja, deves estar a pensar. 'Não aguenta uma pancadinha no coração e fica logo logo trémulo'. Já não me recordo quem disse, mas pelos vistos os homens podem apanhar certas e determinadas estirpes femininas e vice-versa.
Agora tenho o coração a arejar. Entra por lá ar. Por acaso nem me agrada. Mas foste tu quem me ensinou: arejar. E como sempre te fui obediente, cá estou arejar, sôfrego na tua ausência, fiel à tua saudade, agarrado à tua aparição.

quarta-feira, junho 03, 2009

Melros

A P. disse-me: "se vires melros de bico amarelo significa boa-nova".
E eu digo: Há males que vêm por bem. Ou assim quero crer [já que vi três melros de bico amarelo, e duas das 'novas' não foram boas].

segunda-feira, junho 01, 2009

De facto,
quem é pequenino é pequenino
e quem é grande é grande
mesmo que não seja Grande.

sexta-feira, maio 29, 2009

Algo me escapa

A campanha portuguesa na corrida para um lugar no Parlamento Europeu, está um tanto ao quanto desfocada. Se é uma campanha para um lugar europeu, não é lógico que se fale de um imposto europeu, e de medidas europeias, e de assuntos europeus com ponte para os assuntos nacionais? Ou estarei enganada?
É que o definhar de discursos políticos por parte dos candidatos considerados 'maiores', não passam de guerrinhas de bastidores, e de um cuspir de bocas foleiras de quem está mais preocupado em afirmar a própria imagem, do que afirmar o País na Europa.

quarta-feira, maio 20, 2009

Cenário pidesco

Um professora de uma escola EB 2,3 de Espinho em vez de se cingir aos assuntos inerentes à sua disciplina, abordou temas da vida sexual, de uma forma, ao que parece pela gravação pública, imprópria para meninos entre os 12 e os 13 anos.
A "senhora doutora", como gosta de ser anunciada, incorre agora numa pena que pode ir à própria demissão.
Só que a estória não se fica por aqui: não é que a aluna que não gostou dos termos grosseiros da linguagem utilizada pela "senhora doutora", também arrisca-se a ser punida. Porquê? Porque gravou o palavreado sem nível, a autoridade pidesca e as ameaças da professora. E aparelhos electrónicos não são autorizados nas salas de aula.

Ou seja, se a aluna não tivesse gravado, a turma continuaria a ter que suportar uma professora que desvaloriza a própria profissão. A professora não seria castigada, mas a aluna também não.

Esta mensagem não é um bocadinho a querer dizer: meninos não dêem que fazer nem à DREN, nem ao Ministério, e continuem na boa. Somos um país à beira mar plantado. E este é o espírito.

segunda-feira, maio 18, 2009

Dia Internacional do Museu e Serralves

Segunda-feira. Metereologia indica sol. O principezinho sem aulas. Dia Internacional do Museu.

Foi só seguir estes sinais do mapa de hoje, para me lembrar da Fundação de Serralves. Do seu Museu, e de que hoje a entrada não tinha barreiras.

Vai daí, pude apreciar as boas fotografias de Guy Tillim, fotógrafo sul-africano, quem registou os conflitos que perseguem os países africanos do período pós-colonial, a exemplo disso, Congo, Angola e Moçambique.

Mas quem lá está a dar nas vistas é a galesa Bethan Huws. Esta artista fez-me entrar na máquina do tempo, e recordar os bons velhos tempos que passei na Tate Modern. Bethan tem por base a corrente artística conceptual, cujo pai é Marcel Duchamp. O mesmo é dizer que a sua arte tanto pode ser liberta por aguarelas feitas a partir da sua memória infantil, como de objectos da nossa rotina diária [garrafas de vidro, por exemplo] que têm subjacente um outro significado que não o primeiro por nós atribuído.

Mas o curioso, para além de palavras com mensagens tatuadas em vitrines, é um falso chão colocado acima do chão real de Serralves. A artista quis representar o chão como o alicerce da nossa presença no mundo.

A minha parte preferida foi mesmo a arte do meu irmão a rebolar na relva dos jardins do Museu. A cada cambalhota, o meu coração dava outra.

[Isto é só para não dizerem que escrevo apenas tótózadas surrealistas, sem significado aparente. Este texto é real]

sexta-feira, maio 15, 2009

Só.
Gosto da companhia de estar só. De ao meu lado ter um lugar vazio, cheio de mim.
Gosto de antíteses, e de ser diferente. De pensarem que nasci com trissomia 21. 2+1=3. A conta de Deus.
Gosto de viver em prelúdios constantes e prolepses defeituosas. Gosto de no armário encontrar dependurada numa cruzeta velha e partida, a minha alma.
Só.
Gosto da valsa amarga de uma rua vazia. Gosto de caminhar mil vezes na mesma rua, até que esta me diga "olá". Gosto da palavra 'adeus'. Gosto da música pimba do vizinho. De obras. De despertadores. De acordar cedo. De viajar no tempo. De ter um dia meu. E de o empacotar numa mala de sonhos vazios e sós.
Só.
Gosto do que o outro não gosta. Venero o que o mundo afasta. Gosto.
Gosto de pontos finais e de parágrafos. Gosto que não me entendam e me chamem chata. Gosto do mistério de não saber os que as pessoas pensam de mim. E de, no fundo de mim, fazer delas personagens, atribuir-lhes nomes, que elas não sabem. De lhes desenhar uma estória. Oferecer-lhes um destino, à minha escolha.
Só.
Gritar e ouvir o meu eco. Vê-lo. Senti-lo. Ser o meu eco.
Gosto de ter olhos cor de azeitona.
De me enfiar em caixas para cair em asfixia.
Só.
Gosto de ler dicionários como se fossem literatura. Gosto de figuras de estilo.
Gosto de matemática. De fazer contas por cabeça, até perder todos os meus cabelos.
Só.
Gosto da palavra só. Enfiá-la no bolso como uma arma. E apontá-la quando cães invadirem o meu espaço, e me ladrarem alto. Para os afugentar. Para os acalmar. Para que percam todos os dentes. Para que empurrem a palavra 'só' para um qualquer gueto. Para que nela, nasçam versos de um poema constante de quem gosta de estar só. E nisso, não ver nenhum mal.

sábado, maio 02, 2009

O relógio relatava que o dia ia longo, quando B. atravessou a larga avenida de Liverpool St., em Londres. Cansado, percorreu a custo a estação de metro da também cansada Liverpool Station. Era dia de semana. Muitos corpos percorriam aquele corredor cinzento da estação. B. encontrava-se esgotado e embrulhado em malas pesadas e cheias de nada. O único pensamento que lhe ocorria era qual o estado de cada um dos corações guardado em cada um daqueles corpos que lhe derrubavam o equilíbrio. Foi quando venceu o último degrau das escadas que o guiavam até à sua plataforma que B. se deu conta de quem iria estar à sua espera no quarto, ainda desconhecido, quando lá chegasse: a solidão. E, não saberia, como lhe cumprimentar. B. chegou ao quarto, à solidão.

- Boa tarde, senhora Solidão.
-
- Boa tarde. Mais uma tentativa.
-

A solidão abraçou-o, mas B. só queria um aperto de mão.
Chorou. Chorou porque tinha saudades da Mãe.
Foi quando viu a Mãe na mala. Estava lá. Em forma de bilhete. O mais bonito bilhete.
Para B. mostrar ao mundo que tinha o Mundo. Porque tinha a Mãe.

Feliz dia da Mãe, Mãe.

quinta-feira, abril 30, 2009

...

Em certos dias, nem sabemos porquê sentimo-nos estranhamente perto daquelas coisas que buscamos muito e continuam,no entanto, perdidas dentro da nossa casa.

José Tolentino Mendonça

Em certos dias, lemos coisas que foram estranhamente escritas para nós, e estranhamente nos vêm ter às mãos. Assim, sem aviso prévio. Encontram-nos desarmados, carentes. É, por isso, que gosto tanto da poesia. A poesia é Deus. Deus apenas. Sem religião. A sua beleza consiste na certeza dela ser Deus, sem ninguém o saber, e todos o sentirem.
Frases há, que são socos. Badaladas no estômago. Imagens beatificadas. Encurraladas numa caixa de Pandora. E de lá saem, em forma gasosa para nos dar cabo de mais uma manhã. Mais uma. Em que lutamos. O mundo aberto e nós fechados. Contra o vento, num quarto circunscrito de quatro paredes. Não, oito.
Em certos dias, lemos coisas que foram estranhamente escritas para nós. Antes de nascermos. De forma a cumprir o destino. Aquele que ninguém crê, e todos o seguem. Sem grandes interrogações. Na luta de cada manhã. Mais uma para nos lembrar: que talvez será naquela manhã que o mundo virará do avesso, para assim ficar composto.justo.direito.sonhado.arrumado.

sexta-feira, abril 24, 2009

há socos de vários tipos.
de paixão.
de amor.
de ódio.
de compaixão.
de solidariedade.
há socos de prazer e outros de dor.

B. queria sentir um soco. qualquer um que fosse. só para se sentir vivo.

quarta-feira, abril 08, 2009

Gosto de fotografia. Percebo pouco. Mas gosto. Muito.

Não páras quieta

Esta era a frase predilecta da Mãe quando ralhava comigo em pequena.

Não páro quieta mesmo:

http://www.flickr.com/photos/planetab612/

terça-feira, abril 07, 2009

O ministro da Economia, Manuel Pinho, disse hoje que não gostava de desempenhar tal cargo num País em dificuldades[como é o caso de Portugal]. Contudo, dadas as circunstâncias, devemos dar o nosso melhor - ainda desabafou.

E eu concordo e subscrevo aquelas palavras: eu, por meu turno, também não me apraz lá muito ser cidadã deste País. Podia-me ter calhado na roda da sorte outro bem melhor, mas também podia ser pior. Portanto, dadas as circunstâncias, tento fazer o meu melhor.

É este um pouco o espírito português: ninguém gosta, todos lamentam, faz-se o melhor.

quinta-feira, abril 02, 2009

terça-feira, março 31, 2009

je ne regret rien

Vejo-me sentada numa cadeira de uma mesa de uma das salas de uma determinada empresa de recursos humanos. Pedem-me para fazer testes. Psicotécnicos. Aqueles cheios de figuras geométricas. De palavras. Tudo desordenado. Para ordenar. Vejo-me e revejo-me. E ao colocar ordem nas figuras e palavras catalogadas abaixo dos meus olhos, rasgo tudo em pensamento. Assassino aqueles papéis mentirosos e insultuosos. Deixo-os morrer a conta-gotas. Entregues à dor.

Depois de tanta tinta borrada num currículo elaborado a custo [quer por mim, quer por aqueles que incondicionalmente tratam de mim]. a á r d u o custo. pedem-me para fazer uns testes. Como se fossem estes testes que traduzissem a minha sanidade intelectual.

[o título quer transparecer que tudo o que consta na minha vida foi por puro divertimento, prazer e emoção. feito a custo, mas também muito sonhado, por isso sou feliz, ainda assim, ainda vivendo e convivendo no País torpe de Eça]

sábado, março 21, 2009

...a gente aceita as coisas sem as pensar, deve ser a defesa instintiva da espécie e da paz social. mesmo as coisas mais superficiais. a gente leva tempo a aprender as regras de trânsito num certo bairro e um dia mudam as regras e nunca ninguém pergunta porquê. a gente aceita tudo como aceita as pedras e as moscas, o mais que pode é sacudi-las mas não as discute...

Vergílio Ferreira, em nome da terra

domingo, março 08, 2009

insólito caso

quatro da manhã...
faltam uns escassos segundos para passar a película dos sonhos - - -

os pesadelos têm sessão marcada para as seis horas. a fotografia quer expandir-se até ao horizonte de uma madrugada azul.

alguém me diz, uma voz à solta e desprendida: rumo ao norte dos passos gélidos, das pegadas mórbidas.

relutante, a fotografia conta um barco a navegar horizonte fora...conta, também, um corpo coberto por cores vivas, apertado pelo desejo de tocar na linha horizontal da madrugada azul.

calma.
o horizonte não gosta de ser acordado de rompante. precisa de um dedo de cada vez. enfim, de um mimo...para a aguarela da madrugada azul não mudar de cor.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

o coração com mais um ano



Daqui a pouco [são 23h40] vou estar um ano mais velha. E como todos os 'daqui a pouco' de anos anteriores, o giradiscos propõe a mesma música. Build up dos King of Convenience. Às vezes, pergunto-me se as pessoas ouvem o giradiscos que toca dentro de mim. É que ouço tão alto. E se vêem os video clip. É que também vejo os cenários.

Eu sei. Patologia grave, esta. A de envelhecer.

domingo, fevereiro 08, 2009



o pássaro refugia-se do lado de fora da janela. observo-o. invejo-o. tem as penas molhadas. é todo preto. e olha-me nos olhos. sem medo. ou eu não vejo o medo. está ali, apenas. a olhar. não é por mim, é pela música. fica ali parado. molhado pela liberdade, e sem medo. os seus olhos tornam-se espadas. afugenta-me. morde-me com o olhar. percebo que me quer dali para fora. empurra-me, e puxa a música para ele - só para ele. escondo-me por detrás da porta. a música pára. e ele voa vagabundo como a liberdade.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

"a ciência pesa tanto e a vida é tão breve"



dias há que se parecem com o som de um violino. ele tão pesado nestas mãos tão leves. as notas penduram-se hirtas neste corpo tão desinteressado. o violino escolhe acomodar-se no ombro discreto - pouco robusto. dias há em que a chuva que caí no chão não é chuva. é música. são notas de um violino desfeitas. são partituras amarrotadas. são gotas transparentes, deitadas ao chão sem pudor - sem misericórdia. é água que caí do céu e ninguém quer.

há dias, em que o destino decide enfiar uma música na cabeça, com um fim único: arrasar.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

o nevoeiro que vestiu o dia, fez-me lembrar o ensaio sobre a cegueira, e de como nos escondemos debaixo do berço do coração. de como o camuflamos. de como vemos o que nos dão a ver, e não vemos o que deveriamos ver.

porque

'o essencial é invísivel aos olhos'.

meeting in the middle II



o I que se acuse=)