Foi com o dia a terminar no horizonte que me lembrei de ti. Do grito que esvoaça a cada novo morrer. Da probabilidade. Do medo. Da perda.
Estás velho. Já caminhas pela vida, porque ela ainda não acabou contigo como acabou comigo. Foi com o som estridente de um piano gasto, em dó maior, que me ensinaste, a sair fora de mim, para entrar de novo em mim - do lado inverso.
De facto, as tuas rugas assustam-me: antecipam-me a morte. E só de te olhar sinto-te a falta. De ti e das tuas coisas e palavras e sentidos.
Incomoda saber que te percorro os passos. Os que te levarão ao cemitério, onde repousarás, debaixo de uma pedra. As flores serão saudade. E essa pedra uma vertigem.
"Eu hei-de amar uma pedra"
um weblog sobre literatura, viagens, momentos, poesia, sobretudo, sobre a vida. enfim, um weblog com histórias dentro.
quinta-feira, agosto 30, 2007
segunda-feira, agosto 13, 2007
Fui para os bosques viver deliberadamente. Queria viver profundamente e sugar o tutano da vida. E, não, quando morrer, descobrir que não vivi.
in Clube dos Poetas Mortos
Nem sempre a cadeira é o lugar mais privilegiado para se ver o mundo. Para vê-lo é preciso ousar subir mesas, telhados, descer a caves, condutas. E nem sempre a cadeira é o lugar mais seguro.
in Clube dos Poetas Mortos
Nem sempre a cadeira é o lugar mais privilegiado para se ver o mundo. Para vê-lo é preciso ousar subir mesas, telhados, descer a caves, condutas. E nem sempre a cadeira é o lugar mais seguro.
domingo, agosto 12, 2007
Miguel de Cervantes. Torga de planta. Miguel Torga de telúrico desde há cem anos.
Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe
O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.
Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel
Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe
O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.
Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel
sábado, agosto 11, 2007
O blog a baixa do porto dá nota do documentário Miguel Torga, o meu Portugal a rodar amanhã (dia 12) pelas 21h15. A não perder, mesmo!...ainda se vai produzindo televisão a norte...
Eu chamo a atenção para o seguinte: (o estimado) professor de Produção Audiovisual da U.M. e realizador Ângelo Peres.
Eu chamo a atenção para o seguinte: (o estimado) professor de Produção Audiovisual da U.M. e realizador Ângelo Peres.
quarta-feira, agosto 08, 2007
[do ALA, este é o preferido V., adivinhas-me]
Porque motivo apenas te aproximas de mim quando queres fazer amor? No resto do tempo chegas do banco e és só jornal e calças no sofá, se tento falar-te o jornal treme de zanga, sobe mais um pouco, as pernas cruzam-se, impacientes, em sentido contrário, o sapato fica a dar e dar no vazio, toco-te e encolhes-te, faço-te uma festa no cabelo e a cabeça diminui de tamanho, arrepiada, um protesto ronca das notícias
- O que foi agora?- Já nem se pode ler em paz?- Fazes o favor de não me despentear?
jantas calado a rolar bolinhas de pão entre suspiros, desapareces antes que eu acabe de comer, nem uma palavra para a minha saia nova, uma pergunta sobre como me correu o dia nas finanças, um beijo, ficas de mãos nos bolsos a olhar o prédio em frente, atiras o canal para o desporto quando começa a novela, aborreces-te do desporto, carregas no botão e reaparece a novela
- Olha essa porcaria à tua vontade
tudo te enjoa, te aborrece, te cansa e uma vez por semana, quando já estou meia a dormir, o teu braço a arrepelar-me, o ombro que me aleija, uma vertigem rápida, um camião a abanar o prédio na rua, eu a fixar os números luminosos do despertador ao lado das tuas costas indiferentes, o que aconteceu, amor, para mudares assim tanto
(- Não mudei nada, que mania)
ao conhecermo-nos, há dez, minto, há onze anos, chegavas-te a mim embrulhado em vénias de timidez, a ensaboar as mãos, com o sorriso borboleteando em volta da boca sem se atrever a poisar
- Um dia destes convido-a para um café, menina Clara
tão atencioso, tão terno, tão preocupado comigo, a notar quando eu mudava de brincos, de penteado, de anel
- Que bem lhe fica a franja, menina Clara
o meu pai simpatizou logo contigo por te levantares, com o tal sorriso a adejar, mal eu entrava na sala, o que aconteceu, amor, para mudares assim tanto
(- E ela a dar-lhe, que gaita)
descíamos para a muralha do rio, em Novembro, com as gaivotas todas na praia, corríamos de mão dada a assustar os pássaros, achavas-me graça, achavas-me bonita, dizias que eu ficava linda a correr
- Parece mesmo uma gaivota, sabia?
que qualquer dia me escapava de ti, a bater as asas no rasto de um cargueiro turco, perguntavas-me ao ouvido, aflitissimo, ansioso
- Nunca me deixa, pois não?
(- As fantasias que tu vais buscar, meu Deus)
apertavas-me tanto pela cintura que quase não conseguia respirar, por favor explica-me o que fiz de mal para mudares assim tanto, ainda sou capaz de correr da mesma maneira se voltarmos à praia em Novembro, que é feito do teu sorriso e do ensaboar das mãos, ponho um baton diferente, a blusa decotada, os sapatos que nunca me atrevi a usar para os homens não se meterem comigo na avenida
- Ainda há quem me ache engraçada, sabias?
(- Pois que lhes faça muito bom proveito)
desço lá abaixo à muralha e fico no meio das gaivotas à espera que chegues
(- Agora deste em maluca ou quê?)
sem jornal, sem caretas, sem bolinhas de pão, a convidares-me, nervoso, para um café na esplanada, soprando pelo meio do sorriso que não pare, que não pare
- Apetece-me tanto dar-lhe um beijo, Clarinha
(- As parvoíces que a gente diz em novo, senhores)
e nisto, não sei se deste conta, as gaivotas sumiram-se todas e ficamos sozinhos, amor, só a praia e as ondas e eu tão contente, tão com a certeza
- ainda tenho a certeza
(- Cada qual tem as certezas que quer)
de sermos felizes para sempre, de podermos ser felizes se um dia me deixares; deixas não deixas, aposto que deixas,
(- Que teimosia, que insistência, já é cisma, caramba)
abraçar-te.
Porque motivo apenas te aproximas de mim quando queres fazer amor? No resto do tempo chegas do banco e és só jornal e calças no sofá, se tento falar-te o jornal treme de zanga, sobe mais um pouco, as pernas cruzam-se, impacientes, em sentido contrário, o sapato fica a dar e dar no vazio, toco-te e encolhes-te, faço-te uma festa no cabelo e a cabeça diminui de tamanho, arrepiada, um protesto ronca das notícias
- O que foi agora?- Já nem se pode ler em paz?- Fazes o favor de não me despentear?
jantas calado a rolar bolinhas de pão entre suspiros, desapareces antes que eu acabe de comer, nem uma palavra para a minha saia nova, uma pergunta sobre como me correu o dia nas finanças, um beijo, ficas de mãos nos bolsos a olhar o prédio em frente, atiras o canal para o desporto quando começa a novela, aborreces-te do desporto, carregas no botão e reaparece a novela
- Olha essa porcaria à tua vontade
tudo te enjoa, te aborrece, te cansa e uma vez por semana, quando já estou meia a dormir, o teu braço a arrepelar-me, o ombro que me aleija, uma vertigem rápida, um camião a abanar o prédio na rua, eu a fixar os números luminosos do despertador ao lado das tuas costas indiferentes, o que aconteceu, amor, para mudares assim tanto
(- Não mudei nada, que mania)
ao conhecermo-nos, há dez, minto, há onze anos, chegavas-te a mim embrulhado em vénias de timidez, a ensaboar as mãos, com o sorriso borboleteando em volta da boca sem se atrever a poisar
- Um dia destes convido-a para um café, menina Clara
tão atencioso, tão terno, tão preocupado comigo, a notar quando eu mudava de brincos, de penteado, de anel
- Que bem lhe fica a franja, menina Clara
o meu pai simpatizou logo contigo por te levantares, com o tal sorriso a adejar, mal eu entrava na sala, o que aconteceu, amor, para mudares assim tanto
(- E ela a dar-lhe, que gaita)
descíamos para a muralha do rio, em Novembro, com as gaivotas todas na praia, corríamos de mão dada a assustar os pássaros, achavas-me graça, achavas-me bonita, dizias que eu ficava linda a correr
- Parece mesmo uma gaivota, sabia?
que qualquer dia me escapava de ti, a bater as asas no rasto de um cargueiro turco, perguntavas-me ao ouvido, aflitissimo, ansioso
- Nunca me deixa, pois não?
(- As fantasias que tu vais buscar, meu Deus)
apertavas-me tanto pela cintura que quase não conseguia respirar, por favor explica-me o que fiz de mal para mudares assim tanto, ainda sou capaz de correr da mesma maneira se voltarmos à praia em Novembro, que é feito do teu sorriso e do ensaboar das mãos, ponho um baton diferente, a blusa decotada, os sapatos que nunca me atrevi a usar para os homens não se meterem comigo na avenida
- Ainda há quem me ache engraçada, sabias?
(- Pois que lhes faça muito bom proveito)
desço lá abaixo à muralha e fico no meio das gaivotas à espera que chegues
(- Agora deste em maluca ou quê?)
sem jornal, sem caretas, sem bolinhas de pão, a convidares-me, nervoso, para um café na esplanada, soprando pelo meio do sorriso que não pare, que não pare
- Apetece-me tanto dar-lhe um beijo, Clarinha
(- As parvoíces que a gente diz em novo, senhores)
e nisto, não sei se deste conta, as gaivotas sumiram-se todas e ficamos sozinhos, amor, só a praia e as ondas e eu tão contente, tão com a certeza
- ainda tenho a certeza
(- Cada qual tem as certezas que quer)
de sermos felizes para sempre, de podermos ser felizes se um dia me deixares; deixas não deixas, aposto que deixas,
(- Que teimosia, que insistência, já é cisma, caramba)
abraçar-te.
terça-feira, agosto 07, 2007
Andrew Bird
Do meu cardápio musical já faz parte este rapazola. Esta semana apaixonei-me por ele. Hoje acompanhou-me na jornada do dia. Tem sons bonitos. Partilho.
segunda-feira, agosto 06, 2007
Ele é fixe. Um gajo da rádio, que dá voltas diárias ao papel, pelo meio digital. Cafeína pura - quer os programas que dirige na RUM [ainda tenho de ouvir], quer os textos do papel, ou do mundo virtual. Ele é fixe. Desperta a curiosidade para novas músicas. É um colega amigo. Perde canetas como quem perde botões pequenos das camisas. Anda às voltas com a sacola. Às vezes parece dormir com a cabeça na lua - é isso que o torna especial. É da vanguarda. Um optimista. Atento a cada minuto do dia. Companheiro do café e do gelado. Das vagabundices do discurso. Um inconformado, como eu gosto. Tem nome de poeta clássico. Ele é fixe. Ele é um bom companheiro. Sempre aqui do lado.
Eu também vou ter saudades tuas. Até à próxima redacção...:-)
Eu também vou ter saudades tuas. Até à próxima redacção...:-)
domingo, agosto 05, 2007
resposta à maria:
blogs que gostaria de ver editados em livros:
plantar ideias
lábios de silêncio
os meus dois pés vesgos
jornada
les jours de lumiére
frutos de sombra
deixo o desafio a quem quiser participar:-)
blogs que gostaria de ver editados em livros:
plantar ideias
lábios de silêncio
os meus dois pés vesgos
jornada
les jours de lumiére
frutos de sombra
deixo o desafio a quem quiser participar:-)
quarta-feira, agosto 01, 2007
silly-season
Um dos indicadores da chamada silly-season, abrir-parêntesis, quando uma redacção, seja imprensa, televisão ou rádio, não tem nem páginas nem minutos para encher com notícias-de-facto, fechar-parêntesis, é a RTP repetir uma reportagem que passou há três meses.
Subscrever:
Mensagens (Atom)