um weblog sobre literatura, viagens, momentos, poesia, sobretudo, sobre a vida. enfim, um weblog com histórias dentro.

domingo, agosto 31, 2008

morreu joaquim castro caldas

crítico literário. era o o rótulo que lhe colocavam. eu cá preferia outro: traquinas da poesia e de tertúlias. tantas no pinguim café, no porto. não estive presente na última, 'unfortunately'. creio que "da morte volta sempre em vida", diria o sérgio godinho, tal como o amor. morreu e eternizou-se.


só depois de te beijar
uma criança te pede um beijo
para distinguir a inocência do desejo


joaquim castro caldas

segunda-feira, agosto 18, 2008

Destruimos sempre aquilo que mais amamos, seja em céu aberto ou no meio de uma emboscada (...) os cobardes destroem com um beijo, os valentes destroem com a espada.

Impressiona-me (também) a letargia do indivíduo, em particular, e da sociedade, em geral. O - mudo - Primeiro de Janeiro deixou de respirar e não se passa nada. 32 jornalistas foram ilegalmente despedidos, e escrevem-se crónicas. As crónicas ajudam, lançam palavras bonitas, relembram as pessoas - mas não passa disso: de floreados bonitos, numa fotografia bonita, mas sem resultados. Mas será que este País morreu? Será que o mundo enferrujou e já não circula na sua órbita? E o que aconteceu aos contos: não é suposto os maus serem presos, e os bons retomarem os seus lugares de honra?

sexta-feira, agosto 15, 2008

Nunca consegui misturar-me nos outros corpos, estão demasiado vivos, doem-me quando lhes toco. Observo-os, uso-os, e no entanto mantêm-se tão distantes. Se calhar envelheci mais depressa ao tocá-los. A dor vai sulcando o rosto e comprimindo o coração, não sei... talvez seja apenas o receio da noite com os seus desmedidos poços de cinza. (...) No fundo estou-me nas tintas para isto tudo. Tornei-me ladrão. Roubo-lhes um beijo, uma erecção, um gemido de esperma, uma carícia... roubou-lhes tudo o que posso e estou-me nas tintas... é isso mesmo, estou-me nas tintas para o que pensam. Nada tenho a perder, a sedução é uma das artes do ladrão, raramento me deixo roubar. Mas que te importa tudo isto, Beno? Sossega, sossega porque o mundo está sujo de indiferença.

Al Berto, Lunário

sexta-feira, agosto 08, 2008

iLove



Nada de novo. O céu no alto, o chão cá em baixo. O sol brilha, o vento bate, o ar poluído faz A. tossir. Nada de novo. 9h levantar. 01h deitar. E no meio espera-se a cada sopro do coração que o dia entre em erupção. Mas não. Permanece calado, a saborear segundos estéreis de fantasia, viscosos de vazio. Mas como diria Lanza del Vasto "uma revolução precisa de tempo para se instalar". E, assim, quando o tempo der tempo ao tempo pode ser que o céu desmaie até onde o esperam e o chão suba até onde a retina não o possa alcançar, o vento sossegue e o ar suavize.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Citado no blog "Esgravatar"

Às voltas na campa
Manuel Pinto de Azevedo Júnior deve estar às voltas na campa. Foi este homem que tornou o “O Primeiro de Janeiro” reconhecido em todo o país, de norte a sul de Portugal. Apoiou jornalistas, foi patrono das artes, lançou um suplemento cultural, o Das Artes Das Letras, foi o primeiro a imprimir jornais com cor e apostou numa secção de Internacional “a sério”, naquela época em que ainda havia “lápis azul”.

E agora o “Janeiro” volta a ser reconhecido em todo o país. Mas por outras razões. Um empresário de comunicação social, que até tem carteira de jornalista, mas com interesses em muitas outras áreas, resolve pegar numa redacção inteira e metê-la na rua. Sem explicações, sem indemnizações, com salários em atraso, com subsídios de férias por pagar. A directora de “O Primeiro de Janeiro”, que foi quem deu a cara pela administração, disse aos seus próprios jornalistas para irem para casa, que metessem os papéis para o fundo de desemprego e que depois, lá para Setembro, ia chamar todos aqueles que quisessem voltar a trabalhar com ela. Num “novo Janeiro”. Só que três dias depois, o jornal já estava cá fora, nas bancas, com um novo grafismo, com um novo director, a ser feito por dez jornalistas de um suplemento de desporto.

O empresário de comunicação social, que até tem carteira de jornalista, socorreu-se muito da figura de Manuel Pinto de Azevedo Júnior. Todos os anos, lá pelo Natal, entregava prémios em seu nome e do “O Primeiro de Janeiro”, a personalidades que se destacavam na política, na Imprensa, no mundo empresarial, nas artes. Todos os anos, alguns de nós lá iam jantar ao casino e assistir à entrega dos prémios, que até eram significativos. Entre os premiados figuram Marcelo Rebelo de Sousa, Pinto Balsemão, Belmiro de Azevedo, José Pacheco Pereira, Luís Silva, Agustina Bessa Luís, Manoel de Oliveira. Enaltecendo a “memória de Pinto de Azevedo”, o empresário apertava a mão aos premiados e posava para os flashes e holofotes. Era o grande momento anual de “O Primeiro de Janeiro” e do seu proprietário.

Nós, os 32 jornalistas, que fomos postos na rua sem explicações, voltamos agora às notícias, mas do outro lado. Somos “a notícia”. Vamos tendo o consolo das nossas fontes e dos nossos leitores, que nos têm mostrado solidariedade, e de outros camaradas de profissão, de antigos trabalhadores do jornal, de anónimos de todo o país que reconhecem o absurdo desta situação completamente ilegal. Não percebemos é o silêncio e a inoperância das autoridades do Estado. Descartáveis, é como nos sentimos. Usados e deitados fora. Pinto de Azevedo deve estar mesmo às voltas na campa.


Paulo Almeida
Jornalista descartável a 1 de Agosto de 2008
(Texto escrito para publicação hoje no jornal 24 horas)