- Avó, Avó!!
- Ahhh, quem és tu? Ai, que tenho mais uma neta e não sabia.
Olhos rasgados até ao passado que já vai longo, de uma vida que dura há 89 anos.
[Detesto estes números: 79, 89, 99. Dá a sensação de uma pausa, de um tempo maior ao real, até à próxima estação da idade.]
Cabelos brancos, unhas pretas de muito campo, pernas de muito andar até à igreja. Pele enrugada de muito criar. Mãos gastas de muito trabalhar.
Mente cansada da muita catequese que deu. De muitas estórias decoradas.
Mente sumida.
Transparente. Apagada.
O que não é mau de todo.
Pode alhear-se dos conflitos vazios entre filhos.
Do filho que não fala, mas grita.
Da morte precoce do marido que "sempre foi bom".
Aliás, este é dos poucos vértices atravesssados na sua vida, que não esquece.
Só um segundo. Ahhh onde vives? Ahh, pois, eu criei-te, peguei-te ao colo, e dava-te de comer.
Sim, Avó, é verdade.
Não é avó de sangue. Mas é avó de vida.
E, comove-me, o aceno pausado que me faz na despedida, a desejar-me "boa viagem".
A não saber, se esta será a última vez, que nos vemos.
É o mistério da vida: nunca sabemos.
1 comentário:
:-( Lindo, Joana.
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