Deus dá nozes a quem não tem dentes.
uma mulher de corpo bem feito, bonita de cara, pobre de espírito. um homem, jeitoso por sinal, sorridente, a arrotar amabilidades com a mulher - mulher dele, ele, homem dela. os dois com dois filhos - dos dois, ternuras. filhos bonitos. cena de cinema. todos lindos, de férias, ao sol, longe de todos os defeitos, de todos os males - embrulhados numa película de plástico com uma mensagem: frágil, por favor, não toque.
mulher, espírito pobre, do contra, a ser altamente bajulada, idolatrada, pelo resto da família - marido, filha e filho. a mulher adornada de uma ponta à outra, sorriso maquilhado - falso de uma ponta a outra. mais: relógio de marca, biquini de marca, chinelo sujo de marca. daqueles seres que, assim, ao longe, devem ter tudo - um trabalho onde se ganha dinheiro a sério, uma família rica no banco, imune a qualquer anormalidade da vida. por conseguinte, mulher azeda, tiques de uma educação rude, grosseira - do 'sou centro do mundo'.
quando me deparo com pessoas assim, vejo a outra margem - humanos humildes, que lutam pela dignidade da vida, pela saúde, por todas as anormalidades da vida, que maquilham tudo menos o sorriso - e, ainda assim, apanham porrada por todos os lados.
não entendo. custa entender. por que uns amargos, comem nozes sem dentes, e outros doces, passam as passas do Algarve.
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