sentia sempre pena quando o via a assomar-se a casa
com a enxada na mão.
trazia suor no rosto,
cansaço ao peito - respiração queimada pelo sol.
eu admirava-o do portão da casa
ao vê-lo, assim, robusto,
como uma velha árvore.
mas sentia pena,
daquela
que dá um beliscão no coração.
um velho com uma enxada na mão
a trabalhar duro, debaixo do sol duro.
em pouco tempo, estariam vivos
(estamos vivos)
tomates, alface, cebola, cenoura, batata.
sopa para todos - nunca nos faltou nada.
nunca nos fizeste faltar nada.
nem à mesa, nem ao abrigo dos dias.
pousavas as galochas incriminadas de terra
lavavas as mãos,
as mãos continuavam sujas,
do dia de hoje e do dia de ontem
Bebias água, rebolavas os lábios no gole
que já foi.
Isto passou, como agora passou mais um minuto.
Hoje abafas o corpo
numa cadeira de muitos corpos.
E quando repousas o corpo, fechas os olhos
e engoles ar,
e expeles ar.
e mais uma vez.
parece uma vida inteira
a entrar e a sair,
da tua boca.
4 comentários:
Muito, muito bonito, Joana.
obrigada umbigo poético :-)
:) Ternura pura. Lindo de sentir!
Obrigada Lúcia :) um beijinho*
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