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segunda-feira, julho 09, 2007

Quando ela já estava morta, estendeu-a por terra, no meio dos caroços das ameixas, e arrancou-lhe o vestido; a onda de perfume transformou-se numa maré que o submergiu. Encostou o rosto à pele dela e passeou as narinas dilatadas desde o ventre ao peito e ao pescoço, sobre o rosto e os cabelos, regressou ao ventre, desceu até ao sexo, às coxas, ao longo das pernas brancas. Farejou-a integralmente da cabeça às pontas dos pés, e recolheu os últimos traços do perfume no queixo, no umbigo e nas covas dos braços cruzados da jovem.
Depois de a cheirar a ponto de a fazer perder a frescura, permaneceu acocorado junto ao corpo, a fim de se recompor, na medida em que estava a transbordar dela. Nada queria desperdiçar deste perfume. Precisava antes do mais de vedar todas as membranas. Em seguida, levantou-se e soprou a chama da vela.


O PERFUME, PatrickSuskind

(daqui)

4 comentários:

maryposa disse...

adoro esse livro. devoro as palavras e sinto o perfume delicado de cada página sobre os meus dedos... lembra o feno seco sobre o sol, o tom ácido das notas da tinta que escorre pelas linhas...

qqr dia viro serial killer, lol

Ana disse...

já te disse quais são os meus livros preferidos??

Joana M. Soares disse...

«Amor portátil», Pedro Paixão não faz parte da lista de certeza;)

Aleksandr disse...

este trecho deixou-me em estado de suspensão :) ...não consegui largá-lo até relê-le, relê-lo...o êxtase que ele sentiu...o acto de lhe arrancar o supérfluo e lhe retirar o suco...o odor que o apaixonou...e a vida da rapariga a esmorecer na respiração do pequeno diabo :)...nada mau mesmo!
este livro é um delírio delicioso de sensações e verdades humanas transfiguradas em sonhos. Como estes tipos solitários são tão humanos!! :)
ainda está no meu regaço a ser lido! ;)