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quinta-feira, outubro 24, 2013
estórias de metro a metro - dos tacões
ela entrou no metro aos tropeções.
primeiro tropeçou num tacão. depois o outro falhou. mesmo à entrada do metro. mesmo à mercê da gargalhada alheia.
a miúda com cara pintada de mulher devia ter uns 17 anos. de livros na mão e castigada pela chuva, entrou no metro já corada pelo sucedido - como se ainda estivesse a ensair a personagem para as amigas na escola.
tentava trejeitos de mulher, mas quando levava as unhas à boca denunciava a miudeza dos anos.
começou a baloiçar os longos cabelos, e os outros passageiros trociam a cara pelo vento e pingos de chuva que saiam da cabeça da miúda-que-tentava-ser-mulher.
a vida é muito perspicaz: faz-nos quer ser grandes, quando pequenos, para aguentarmos todas as vezes que os tacões falham, e faz-nos ficar mais meninos, quando velhinhos, para irmos desta, com a sensação de não estarmos cansados por termos levantado tantos tacões.
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2 comentários:
Excelente crónica! Muito plástica! José Miguel
é a insastisfaçao humana de só querer ser ou estar o que não temos ou somos.
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