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quinta-feira, julho 31, 2008

O Janeiro

Há uma estante cheia de pó e migalhas de letras do século passado mesmo a incomodar o nariz de quem tecla ao seu ladinho. O corredor é estreito. A sala é pequena, mas já conheceu várias reformas. As secretárias tinham nações diferentes, e o mesmo se passava com os pc's. Estes eram muito peculiares. Mas como diz a minha avó, que poupa tudo, "dava para o gasto". Apertavamo-nos todos naqueles três corredores - como uma daquelas famílias, pobres no cofre, mas ricas no Amor. E o Amor é a dedicação de cada letra, de cada agenda, de cada hora fora do relógio de trabalho. Os cafés de segredos, as manias, e a luta entre o bem e o mal. O Janeiro é um mês assim: um nevoeiro à espera de dias melhores. Sempre foi assim. O Amor à letra, à agenda, a cada hora fora do relógio.
O Janeiro é um brinde ao cigarro na porta de trás, ao café torrado, à casa-de-banho com mais crítica do que papel. É o mês quente. Sim, o Janeiro é muito quente. Um mês exótico, lá na rua Coelho Neto, vizinho das prostitutas.
[Muitas vezes estendi a mão com o jornal a mulheres que o queriam ler para não morrerem de aborrecimento - sintoma de profissão] O Janeiro é um mês com uma estante cheia de pó e migalhas de letras do século passado. De há mais do que o século passado. Nesta cidade, algures, há uma estante com migalhas de letras que duram há 140 anos. Eu vivi no mês Janeiro. Aquele cheiro incomodava o nariz. As migalhas de letras sujaram-me casacos. Os pc's tornavam-me um verso de Bocage: negra como a noite. E mesmo assim, cada edição era uma pinga de suor e sangue pelo Amor à letra, à agenda, a cada hora fora do relógio. O Janeiro não é um mês de todos, é um mês de alguns. Daqueles que se sentiram incomodados com a estante de 140 anos, e mesmo assim, mesmo sujos de pó, com o nariz entupido, pingaram e pingaram e pingaram suor e sangue para que cada papel, cada edição fosse a Ode ao Jornalismo - ainda que remando contra alguma estupidez capitalista, e ao próprio verso da profissão.

O ano perdeu um mês: O Janeiro

2 comentários:

Wask disse...

O Primeiro de Janeiro morreu?
por acaso tenho pena!!

bjokasssssssss

Anónimo disse...

estamos todos com os colegas que tal como nós viveram o mês quente de janeiro...


Cátia Alves da Silva