um weblog sobre literatura, viagens, momentos, poesia, sobretudo, sobre a vida. enfim, um weblog com histórias dentro.

domingo, dezembro 26, 2010

apetece-me fugir de mim para mim.
descubro coisas que não quero, vejo paisagens duras, dificéis para caminhar.
caminhos altos e longos.
sou trecho de uma história que não escrevo sozinha.
vejo enganos e desenganos. vejo um muro trair uma parede.
leve, transparente, subtil.
ainda assim magoa. de morte.
apetece-me caminhar no corpo. partir os vidros. limar as pontas.
para não magoar, para fazer de conta, para amar sempre. para sempre.

quinta-feira, novembro 11, 2010

existe a poesia para fazer o trabalho de manter viva a memória. nela não há alzeimer. muitos riem disto. mas é verdade. a sério.

segunda-feira, outubro 25, 2010

ali

ficava ali o tempo todo. se o mesmo tempo me permitisse.
as folhas repousadas no lago preto da terra e uma cara pousada na água suja - a fazer reflexo. e eu. eu a olhar as árvores, as folhas, a água, a cara artificial.
eu ali. com um lago dentro. acompanhada das minhas árvores, das minhas folhas, das minhas águas. da minha cara não artificial. ambas a ouvir os pássaros, as folhas em abanico, numa orquestra sem mestre.
eu não ando sozinha. aquele era um bom lugar para crescer em mim. ficava ali. até rebentar a terra, soltarem-se as folhas sopradas pelo vento, rebentar a água e a cara pousada em mim - a fazer reflexo.

segunda-feira, agosto 23, 2010

Não é do lugar que sentimos saudade. É do que fomos nesse lugar.

quinta-feira, agosto 19, 2010

às vezes apetece pedir ao Mundo para que fale mais baixinho:
- Mundo, podes fazer um pouquinho menos de barulho, se faz favor!?

sábado, junho 19, 2010

a passarola voadora morreu

José Saramago, prémio nobel da literatura em 1998, morreu.
Poeta e escritor português.

A morte do escritor apanhou-me de surpresa. Toda a morte apanha de surpresa, ainda que seja inevitável. Não existe imortalidade a não ser para a obra que fica da pessoa, neste caso de Saramago.

José Saramago parafraseou Ricardo Reis quando este escreveu: "Nada fica de nada". Para o escritor português "nem ficam as obras".

Mas ficam! Quanto mais não seja na prateleira lá de casa. Na memória. No facto de ter feito a minha vida de estudante à volta de testes e exames que incluiam as ideias e palavras de Saramago. E isso fica.

Não tenho feito grandes coisas nesta vida, mas pelo menos consegui uma: assistir a uma palestra formidável de José Saramago aqui há 6 anos, em Braga.

Eu quero lá saber das divergências com Deus, o País, ou o comunismo. Sei que gostava das palavras, das estórias, e esse legado fica para sempre. Para lermos aos filhos, netos e a quem mais queira aprender o mágico mundo de juntar letras a fim de dar ao mundo uma mensagem...sobre a blimunda sete-luas e o bastasar sete-sóis. Não é lindo?

quinta-feira, maio 20, 2010

por vezes o sol que varre as estradas é injusto.
porque parece chuva, para alguns.
uma chuva intensa, amarga, que queima as lágrimas
que querem sair. para limpar - dizem. para desabafar - relatam. para expelir - confirmam outros.

o sino não pára de tocar.
toca sem parar.
toca. toca. toca.

o padre fala para ouvidos moucos. porque a dor é surda.
a dor é um casaco impermeável.
é fechar as portas do nosso mundo ao mundo.

os abraços e beijos são vazios.
corridos a pó, a vento.

um choro com pauta
arranca um coro de soluços.
acordes num anfiteatro branco,
de mármore.

um anfiteatro que nos espera. a todos. sem excepção.

o amor enterra-se, mas não morre.
cai terra, caem flores.

mas o amor...
como está escrito na bíblia...
esse...
tudo pode, tudo crê, tudo sofre, tudo espera.

segunda-feira, abril 26, 2010

Trechos de uma alma desalmada.

ela olhava-o de soslaio. acomodava a cabeça no colo e pintava-lhe o céu no rosto.
bebia-lhe da frescura de um olhar deserto.
borrava-lhe a cara de beijos tão soltos quanto o vento. e a isto chamava amor.
porque o amor é o que o Homem quiser.

sábado, abril 24, 2010

as pessoas metem-me medo. assustam-me.
não trazem facas, nem pistolas, nem maus olhados.
são ignorantes.
e isso rompe mais sangue, do que qualquer facada intencionada.

terça-feira, abril 13, 2010

domingo, abril 11, 2010

aldeia com gente

o caminho não é estreito. é muito estreito.
curva atrás de curva. não passam dois carros. mas faz-se por isso.
entalados entre duas montanhas, subimos a estrada até à Ermida de Ponte da Barca.
o carro só consegue chegar em primeira.
passa verde. passa pedra. passa vento. e passa muito sol.

chegámos à Ermida. acima de nós o céu. abaixo o mundo.
em frente aos olhos uma aldeia com gente: a Ermida de Ponte da Barca.

um homem com chapéu, um olhar gasto e feliz apresenta-nos as casinhas em pedra, o museu da aldeia, o único café, a Igreja dos seis santos a senhora mais velha da Ermida e a criança mais nova - das que restam.

Apresenta. Não se queixa.

Passa uma vaca e ouve-se o mugir de umas tantas outras. Cheira a merda.
"Cuidado". Não vá, às vezes, pisar. "Que se foda", dizem.
Quando a natureza é maior que o Homem. Que se foda mesmo.

Gente genuína. Gente com aldeia. Aldeia com gente.

A ver, a partir do dia 13 Abril, em www.localvisao.tv, no distrito de Viana. [entre muitas outras coisas]

sexta-feira, abril 02, 2010

a playlist da joana



"If God has a master plan. He only understands. I hope is from your eyes, He is seeing through."

quinta-feira, março 25, 2010

As mãos de Júlia Ramalho II

Baptista-Bastos escreveu o título número um. Prosseguia em lua-de-mel por este Portugal fora quando conheceu Júlia Ramalho - e toca a registar as mãos de Júlia na imprensa portuguesa. Eu decidi escrever o II (que me perdoe o outro jornalista).

Para lá de Barcelos, existe um sítio que se chama Galegos S. Martinho. E aqui existe uma senhora com mãos de condão. É com pessoas como Júlia Ramalho que me entusiasmo na profissão. São estas que valem a pena e que conseguem arrancar um sorriso nos dias a fio que se leva com alguma ingratidão.
Eu gosto do que faço porque conheço pessoas especiais. Pessoas que não ouviria falar se não fosse pelas reportagens locais. Nestas pessoas, não há azáfama, nem correria, nem bocejos de preguiça. Existe uma alma. Um empenho.
Júlia Ramalho trabalha figuras do imaginário, de Barcelos, do que as pessoas lhe encomendam. A avó, Rosa Ramalho, já tinha jeito para o artesanato na época do antigo regime - não teve oportunidade de mostrar essa graça. A neta nasceu com o dom e soube-o aplicar. Em casa tem uma oficina onde estraga as próprias mãos a dar mimos ao barro; tem também uma espécie de museu onde guarda as peças mais bonitas e com muita estória. Daquelas que são sussurradas no ouvido - nunca diante de um microfone. Portanto, se quiserem ouvir estas estórias, preencher um pouco mais de alguns dos dias vazios, Galegos S. Martinho, onde está Júlia Ramalho (devidamente sinalizada) é uma personagem e tanto, com a vantagem de ser verdadeira...ainda que pareça saída de um livro.

domingo, março 14, 2010

Recado aos Amigos Distantes

Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.

Cecília Meireles, in Poemas (1951)

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

"Há sempre um tempo anterior ao nosso tempo, não é?"
Pepetela

Eu ando a ler esse tempo, ou seja, posts antigos...lame, I know.

sexta-feira, fevereiro 19, 2010



as memórias esmorecem.
não sei se é com as mãos que as sacodimos, ou
se, simplesmente migram com o vento.
a única certeza é que todos nós vamos embora.
migramos.
esperando sempre que haja alguém no último parágrafo.
quase sempre nunca há. estão todos na página anterior.
quase.

sábado, janeiro 23, 2010

Por mim, ia rio fora até encontrar o meu mar.
Navegar nas montanhas das ondas,
refrescar na saliva da espuma,
e depois,
caminhar até ao manto salgado, na berma da areia.
E, por lá, deixar-me ao abandono.
Esquecer-me.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Lhasa voa pelos céus




Con toda palabra
Con toda sonrisa
Con toda mirada
Con toda caricia

Me acerco al agua
Bebiendo tu beso
La luz de tu cara
La luz de tu cuerpo

Es ruego el quererte
Es canto de mudo
Mirada de ciego
Secreto desnudo

Me entrego a tus brazos
Con miedo y con calma
Y un ruego en la boca
Y un ruego en el alma

Con toda palabra
Con toda sonrisa
Con toda mirada
Con toda caricia

Me acerco al fuego
Que todo lo quema
La luz de tu cara
La luz de tu cuerpo

Es ruego el quererte
Es canto de mudo
Mirada de ciego
Secreto desnudo

Me entrego a tus brazos
Con miedo y con calma
Y un ruego en la boca
Y un ruego en el alma

domingo, janeiro 03, 2010

Primeira lição do ano [e última do ano anterior]

Mais vale um que saiba mandar, do que cem a trabalhar.


It's not going to stop 'till you wise up. so just give up.

Às vezes mais valia chover sapos para cima de algumas pessoas. Se bem que isso poderia ser um privilégio.