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sábado, outubro 11, 2008

'a cada enxadada, uma minhoca'

Custa-me ver bons profissionais do jornalismo - que não exercem a profissão - sentados no sofá [e nem falo de mim] a ver as notícias na televisão; ou melhor, o desfilar do descalabro jornalístico.

No Jornal Nacional da TVI de hoje (de há pouco) disse a jornalista que "dois assaltantes de raça negra..."

Aquela citação causou-me tamanha naúsea que nem ouvi o resto. Apenas abri a boca de espanto, e foi tanto o espanto, que até a minha mãe ficou curiosa sobre o meu 100% espasmo.

Raça negra? Não ficaria melhor anotar 'origem africana'? Aliás, qual a razão para mencionar a "raça"? Mas aquela jornalista esqueceu-se dos dez pontos do NOSSO código deontológico?

[Como diz a minha avó: Valha-nos Deus]

8 comentários:

Anónimo disse...

Se fossem dois brancos com bigode, não havia a necessidade de especificar. Eram só dois assaltantes e pronto. Assim são dois assaltantes de raça negra e, como se não bastasse o facto de andarem na má vida, ainda tiveram que levar com a incrivelmente má escolha de palavras da jornalista. Estaria a fazer justiça com a própria boca?

Anónimo disse...

Joaninha,
da Tvi já nada me surpreende... Dali só se pode esperar mau jornalismo, e nem sequer é a minha área (mas dá para perceber de quando em quando as calinadas na Língua Portuguesa e a falta de cultura cívica)... Já nem falo da programação, que parece ser escolhida a dedo aos sábados de tarde e domingos, com violência atrás de viloência... E ainda dizem que a violência está a disparar no nosso país: não deve ser somente a crise o factor impulsionador (parece-me).
Um beijinho grande,
Raquel

atribodofutebol disse...

O José Manuel Fernandes disse um dia que já não existiam jornalistas na TV. A afirmação é exagerada, mas a verdade é que os há poucos. Mas também é um facto que quem procura jornalismo e jornalistas não devia procurá-los na TV.

Quanto à questão da raça, partilho de parte do teu "post". Se é verdade que não há necessidade de se mencionar a raça (uma tentação demasiado grande da generalidade dos jornalistas), não posso concordar com a tua expressão "de origem africana". Um indivíduo negro que nasceu em Portugal não é "de origem africana". E muito menos o é um indivíduo negro nascido, por exemplo, no Suriname. Tem sempre uma origem remota em África, é verdade, mas não me parece que faça grande sentido começarmos agora a evocar a ancestralidade. A origem de uma pessoa é o país de onde ela vem.

Estas designações raciais variam muito em função da cultura, mas a antropologia física, por exemplo, classificava os grandes grupos humanos com “europóide” (branca), “mongolóide” (amarela) e “negróide” (negra). Nesse sentido, não só jornalistas, mas sociólogos e antropólogos, têm usado a expressão "raça negra" ou indivíduo negro. Outra discussão permanente envolveria a pertinência ou não da classificação por raças. Mas essa é outra conversa.

atribodofutebol disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
atribodofutebol disse...

Só uma provocação: não existem "profissionais do jornalismo que não exercem a profissão". Quanto muito, existiriam jornalistas que não exercem mas nem esse é o caso. Um jornalista que não exerce não é um jornalista. Não pela "infelicidade" de não ter um "emprego", mas por não perceber que o jornalismo é muito mais uma atitude que um emprego. É por isso que um jornalista, um bom jornalista, não tem férias. É também por isso que um jornalista, um bom jornalista, não fica desempregado. Vira "freelancer". E, sobretudo nos dias de hoje, quem não percebe que a realidade do jornalismo tem cada vez menos a ver com quadros e contratos, não está no caminho certo.

Boa sorte para esta nova fase.

Joana M. Soares disse...

O JMF é um exagerado. Existem muitos bons jornalistas na TV, pelo menos os que conheço. Raça negra é feio. Foi no Público que me ensinaram isso e a origem africana. Existem profissionais do jornalismo que não exercem. Existem freelance. E existe um problema económico grave que limita o trabalho dos freelance. E não se vive apenas disso.

atribodofutebol disse...

Perdoa-me Joana, sou um desbocado, como o JMF.

Quanto ao problema económico, limita a actividade de toda a gente, freelancer ou não. Quis apenas dizer que um profissional do jornalismo que não exerce não deve ficar sentado no sofá. Conheço alguns assim, à espera que a oportunidade lhes caia no colo. O caminho faz-se caminhando. No caso do jornalista, faz-se escrevendo. Ao longo destes anos, que já são alguns, tenho conhecido muita gente com talento, uns com mais, outros com menos. E tenho percebido que nem sempre aqueles que "se safam", ou "que triunfam", são os mais talentosos. Há muita gente com talento a quem falta a atitude certa. Proactividade. É o que se pede nos dias de hoje.

Joana Saramago disse...

Acho que as pessoas resolvem dizer "raça negra" para evitarem dizer "pretos".
É um politicamente-correcto errado.
É o mesmo que ouvir alguem dizer "uma pessoa de cor" pensando que está a falar correctamente.
Deixa que a mania do politicamente correcto do Reino Unido está cá a chegar e vai chegar uma altura em que toda a gente tem tanto cuidado com o que diz que até enjoa.

estás boa?
que tens feito?
temos que nos encontrar um dia destes :)